sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Tonight, Your arms feel like home.



Depois do barulho, silêncio. Depois da música aos altos berros, do fumo, da confusão. A calma, os pensamentos, o olhar fixado em lado nenhum.

Já estive. Já saí, já fui embora. E nesse instante não me consegui pôr completamente fora. Talvez esteja a voltar agora, e este voltar nem seja um voltar completo.

Talvez seja só uma vontade alargada de o fazer. Uma vontade proíbida, a que ponho barreiras de cimento, enormes e pesadas. Para não cair na tentação de lhe corresponder.

Sinto já o arrepio que percorre a pele, um tremor interno. O calor passou. O coração bate mais calmo, e parece ter os olhos mais abertos. Ou mais fechados. Ou mais pousados em ti.

Páro um pouco, relembro um pouco.

Hoje os teus braços chamaram-me, como se me soubessem a casa.

Hoje os teus braços, fizeram-me querer sentir em casa. Ficar por lá entre o teu calor.

Não vou olhar para trás, profiro, enquanto cerro os dentes e fecho os punhos,para ter a certeza que fica bem gravado, que chega para esquecer o desejo súbito de fazer exactamente o contrário.

Não sei ser simples, e não faço ideia de quando o começarei a saber. Fazem-me confusão estas confusões de confusão onde me enleio, e onde me prendo.
E isto é tudo acerca de mim, porque fui eu que te fiz ir. Sabendo que a qualquer altura poderia querer que ficasses, sabendo que quando te ouvi dizer aquele adeus personalizado e disfarçado, o meu interior implorava-me que dissesse, pelo menos uma vez as palavras que queria mesmo dizer, e não as que achava correctas. Aquele ‘vou ter saudades tuas’ que agora se cumpre, como profecia.
Deixar a loucura tomar conta de mim, por uma vez, a ânsia percorrer-me o corpo. Arriscar fazer tudo aquilo que me assusta, que me repele e me chama.
Sou tão perigosa para ti agora, que deveria existir uma qualquer vacina que te fizesse imune. Ainda assim, eu sei que já não faz qualquer diferença, e que a minha mente divaga sozinha nesse ‘nós’ que eu não faço ideia se aceitaste como existente…Ou se achas que não chegou.
E se me perguntares, porquê tudo isto…eu só conseguirei dizer-te que sou fraca perante as ausências. Que preciso das pessoas que me aquecem o coração, ainda que esse calor não arda.
Que ele ainda não esteja com chamas altas e consiga encher tudo.
Questões de tempo que puxam decisões arriscadas. Ficar, ir. Chorar, sorrir. Tentar, desistir. Só mais um pouco. Não, está na hora. E eu não sei lidar com elas. Parecem-me monstros, com dentes compridos e olhos enormes, prontos a engolir-me ao primeiro som que me fugir da boca. E eu não sei agarrar apenas numa. Abrir os braços como se fosse abraçar o mundo para uma opção, sem antes medir o perigo, a vontade, e tudo isso que me põe ainda mais tonta do que antes.
Mas esta noite, os teus braços chamaram-me como se achasse que ali pertencia. Que ali, era estar em casa. Juro-te que a minha mão quis agarrar a tua, como outras tantas vezes e ficar a amachucar o teu casaco, enquanto eu fechava os olhos e deixava que o silêncio de confundisse ainda mais. Te deixasse ainda mais a achar que eu não sei o que quero.
O que é que tu tens para não te querer assim, longe? Que medo me proíbe de te deixar ficar assim, perto? Não há tempo para estas contrariedades. Não há paciência, não há motivo de espera. Não há uma só corda firme que nos mantenha ligados nesta aparência de desligamento.
E eu cerro os dentes, fecho os punhos. ‘Não vais olhar para trás!’. E de seguida viro as costas, levanto o olhar do chão, e lá estás tu. Do outro lado de um qualquer mar de águas frias e tóxicas que eu quis passar. Do outro lado do mundo. Do outro lado da parede de vidro enorme e transparente que prolonga um pouco mais a vontade, e a dor subtil que traz agarrada a si.
‘Eu vou ter saudades tuas, e vai doer.’ Já dói e eu não o quero ver, vendo-o melhor do que a mim. Engulo em seco, não contigo, não desta vez, não assim.
Mas eu vou ter saudades tuas. Mais do que as que tive. Mais do que as que tenho. E ainda mais que aquelas que achei possível sentir.
Viro de novo a cabeça para a frente, baixo os olhos, e obrigo-me a andar. A distância aumenta e eu não me posso queixar, não posso berrar, não posso dizer que a culpa não foi minha, que fui obrigada. E sei, continuo a saber, que não me importa os olhos com que te vêm, mas sim aquilo que os meus me dizem de ti.
E há uma qualquer parte no teu interior que enfraquece o meu, que o torna vulnerável, e o faz guardar-te ainda. Agora. Amanhã, e impossível de calcular por quanto mais tempo.
Hoje, os teus braços chamaram-me, como se fossem o meu lugar.
Hoje os teus braços chamaram-me, como se me soubessem a casa.
Estou longe demais para que os passos apressados me façam ainda chegar a ti, que continuas a andar na direcção contrária.
Minha culpa!...
Olho para a frente, apresso a corrida, e continuo a acreditar que quanto mais correr para longe, menos presente vais estar.


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