Encontro-me na escuridão do meu quarto. Nem presico de luz. Eu não quero a luz.
Conheço-o como a palm da minha mão, como cada pedaço do meu coração. Sei onde tudo se encontra, tudo o que senti dentro dele...todas as lágrimas, todas as felicidades, todos os pulos de euforia que quase me partiram o estrado da cama fofinha, cada ladrilho do chão onde despejei muitas vezes o meus joelhos cansados, onde deitei muitas vezes o meu corpo quente de dor, onde me encontrei quando me perdi. Sei de cor cada pincelada das paredes, num tom vermelho sangue coalhado...Sei cada pensamento, cada segredo que elas ouviram. E guardaram.
Gosto desta escuridão, da escuridão do meu quarto, da escuridão do meu mundo...Nela eu sei por onde seguir, mesmo que a luz nunca se acenda.
Olho pela janela ainda aberta, quase nas badaladas da meia noite. Lá de fora vem uma luz dourada, que enaltece as sombras das árvores e das videiras, e pontinhos pequeninos dançantes no meio do negro da noite. Ao olhar lá para fora sino-me meio que sem explicação...um conjunto bem formado de sentimentos e sensações que não posso adjectivar...e acreditem que adjectivar é um dos meus dons.
Sinto o quarto meio cheio hoje. Vagueiam pedacinhos teus como pó pelo ar, roçando nos cortinados, acentando nos móveis. Como se me mantivesses segura do momento. Presa no instante.
São saudades. Coisas ilusórias, imagens frenéticas, pensamento apenas em ti, em tudo o que te rodeia.
E o teu mundo sabe-me a amargo quando os fragmentos da tua memória vagueiam entre as paredes do meu quarto. Aperta-me o coração, acelera-me a pulsação, mas deixa-me o peito demasiado pequeno para respirar o que preciso...devagar.
Mas quando o que preenche as paredes avermelhadas do meu mundo é a tua imagem, a tua gargalhada contínua, o teu sorriso brilhante, a tua forma de falar diferente e fofinha, eu sinto o teu mundo como um doce. O meu mundo. Não me arriscarei a dizer o nosso...ele teria de se estender para lá da água fria, para lá das nuvens altas.
Sim, dá-me a sensação que a distância será sempre a distância. Só pelo nome nos pôe os dentes a bater, só pelo som da palavra ouvimos as portas e portões a ranger. É a distância, como a ventania incontrolável numa rua de Inverno, vazia. É ela.
E eu Continuo a dizer que gosto de ti. Não é algo que se diga por dizer. As palavras são traiçoeiras...Muito mais que o coração.
Elas são ditas e nós guardamo-las...mas parece que têm data de validade...parece que um dia representam apenas mais um momento, mais um papel envelhecido que deitamos ao mar.
Há horas em que me parece que o meu mundo arrancou do lugar onde estava quando me disseste a primeira palavra...há horas em que acho que ele vai parar por não me dizeres nenhuma. E na verdade eu fiz de tudo para fugir, para não me habituar a esse teu jeito. Mas fugir de mim, ou proibir-me de querer aquilo que quero, não funcionou.
Desobedeci a mim mesma com quantas forças tive.
Certo ou errado, eu caminhei por aí.
Apetece-me caminhar de novo lá fora. Agora, onde não há ninguém e eu posso trocar palavras de filosofia com a brisa...
Na verdade, apetece-me molhar os pés na água salgada do mar...Apetece-me adormecer na areia fina, com as estrelas como manto e a luz como luz de presença.
Viro a folha, a caneta deixa de escrever. As letras não têm muito mais para dizer esta noite. Poso tudo do lado esquerdo, na banquinha de madeira escura...Apago a luz, mas deixo a luz dourada atravessar a vidraça da janela...viro-me para o outro lado, e fecho os olhos.
Nos sonhos, posso encontrar-te.
" A hundred days have made me older since the last time that i saw your pretty face...A thousand lies have made me colder and i don't think i can look at this the same..BUT ALL THE MILES THAT SEPARATE, disappear when i'm dreaming of your face...(...) But you still with me in my dreams..."
Sem comentários:
Enviar um comentário