É fácil falar-te. O difícil mesmo, é fazer com que essas palavras te falem, num tom mais parecido á tua voz que á minha.
O difícil é que essas palavras te digam tudo o que eu quero que elas te digam, e que eu sei que elas te dizem. Mas quando falam, elas continuam a falar para uma parede de metal que lhas devolve de imediato.
Agora assusto-me com as várias tentativas que tenho feito, para que as palavras consigam derreter essa parede fria, austera que faz com que eu ache que sejas mais impossível.
Repeti tantas vezes o mesmo gesto, disse tanta coisa de maneira diferente, tentei mostrar-te de tantas formas já, que todas as opções começam a escassear e eu continuo sem passar esse obstáculo. Ou talvez o já tenha passado, e tu o saibas…Mas de que me serve, se eu não o sei?
É por isso que hoje, enquanto olhava nem sei para o quê, me apercebi que não sei de que cor é o teu céu. Ou se tu tens algum céu para onde levantar o olhar sempre que te cansas de olhar para a frente ou para os lados. Mas depois lembro-me que por vezes ainda olhas para trás, e as minhas dúvidas aumentam. Pus-me a imaginar de que tons verás os problemas, ou se eles existem…E se precisas de esperança, ou tanto te faz.
Se alguma vez nessa tua vida, um pouco maior que a minha, já choraste metade do que eu chorei. Ou se já choraste mais…Ou se não choras. Há momentos em que me pareces mais seco que as crises alentejanas no verão (e isto não tem qualquer piada), e me dá a sensação que és um pedaço de qualquer substância sem brilho, que mais que tudo aceita. Aceita tudo…
Um pouco mais além, nos meus pensamentos desenfreados acerca de ti, vejo-te ainda de pior maneira que vejo a matemática. Nela vejo nós, e segredos que me cansam a cabeça de tentar desenlear. Contigo apenas sou capaz de ver uma porta, que de maneira nenhuma me deixa entrar, e me cansa o coração por achar que nunca vou ser capaz de a atravessar…sem falar no nevoeiro que todos os dias me esforço por ignorar.
Pergunto-me se não te cansas de andar nesse caminho que em nada se parece com o meu. Pergunto-me se não precisas de te sentir amado de forma mais funda que um lote de beijos, com oferta de algo mais além…Se não precisas que alguém te dê uma verdade mais certa, que não te faça tremer tanto…
Mas esqueci-me…Tu não tremes…Tu não tens medo, e tu percebes (quase) tudo. Percebes tudo, menos o que quero que percebas e eu não te posso culpar. Não te posso apontar um dedo por não imaginares o que é ser preso por um carinho difícil de ignorar, que te bate no peito tanto quanto o coração. Por não saberes o que é o amor puro, cru…aquele que te faz a pessoa mais feliz do mundo num segundo, e no seguinte te dói como álcool numa ferida, por não te passar pela cabeça o quanto um abraço pode significar. Mais que muito, meu pequeno-grande, mais que tudo.
Dou por mim quieta, demasiado enrolada em ti. Demasiado dentro, para ainda ir a tempo de sair de rompante e dizer um “desculpa” apenas. Agora, ir embora fazer-me-ia sofrer mais a do que a ti.
E depois mais um vómito de perguntas…Será que sentes realmente a minha presença ao ponto de sentires ausência se fosse embora? Será que eu movo alguma coisa em ti?
Ao menos, vês-me como sou? Vês-me a mesma rapariga stressada, tresloucada, com a cabeça em mil lugares ao mesmo tempo, mas com um coração determinado e cheio que os outros? Com um feitio difícil de perceber, com um olhar demasiado fácil de se adivinhar. Vês mesmo, consegues mesmo ver quantas cores me correm nas veias, quantos sentimentos me alimentam a alma, quantas vontades, quantos sonhos me levam ainda a estar aqui?
Será que vês, como todos os que me amam vêem, o quanto bem eu te quero? O quanto eu acredito em ti, quando todos eles já desistiram?
Aqui, neste lugar que me pertence, tudo é diferente de ti, então tu destoas…Não és a pessoa que quis um dia manter perto de mim, não fazes de todo o molde do que esperei.
Mas eu não te consigo pôr fora de mim, porque se o fizesse sentir-me-ia meio que vazia. Afinal fazes-me falta.
Fizeste e fazes tudo o que eu não faria… E podes saber tanto mais acerca da vida que eu. Sabes tanto mais da vida que eu. Já sabes jogar, já sabes fingir, já sabes mostrar o que queres.
E eu, nem sei se é de mim, ou se é de precisar de cair mais umas quantas vezes, vou-me sempre regendo pelos sentimentos, e pela verdade…Pelas palavras, mostrando as quinhentas sensações que me atacam, ainda que as olhem como uma ‘mariquice’…
Tu estás num extremo, e eu estou no outro. Não me perguntes como é que nos encontrámos, e mais ainda, não me perguntes porque te guardei em mim com tal veemência.
O que importa agora, é que não podes sair, e que eu travo lutas constantes com a tua placa de metal que não me deixa ficar ainda mais perto. Já não bato apenas na espera que ela abra. Agora vou de encontro a ela, mando-me com toda a força do meu corpo e alma, desejando do fundo vê-la ceder. Ver-te ceder…
É fácil falar-te. O difícil é fazer com que sintas as palavras…e eu consiga saber que as sentiste.
Consiga ver na tua face uma expressão qualquer mais afectada, mais emocionada. E eu nunca consigo…
Será que vês o quanto eu acredito em ti? Será que vês quantas vezes não fugi já das amarras de protecção que todos me põem á volta, sempre mordendo o lábio de ansiedade a cada passo que dou em direcção a ti, na espera que eu caia? Que me empurres e me faças cair.
É algo que eu não te consigo dizer. Que nunca te vou conseguir explicar claramente. Da maneira mais adequada, que não deixe dúvidas, e contras pelo caminho…
É fácil, muito fácil falar-te…o difícil é explicar-te o quão difícil é gostar de ti, e quão facilmente, ainda que de forma difícil, o faço.
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