terça-feira, 29 de setembro de 2009

Tu.

Eu respiro fundo, e não largo a tua mão…Caminho a teu lado, sem me cansar, e nós não temos qualquer destino ou direcção.
Parece que vai começar, de repente, e depois já acabou…
Tu olhas a minha face de vidro, e sentes-te forte, agora que a chuva parou. E foi num dia de Inverno que te encontrei, onde talvez a meio do caminho te deixei…
A razão porque recuso olhar o espelho ao falar, é porque não sei o que vejo nele…não sei sequer o que procuro. Se procuro um sorriso, porque me parece fácil, se procuro uma lágrima, porque me parece verdadeira…
E então eu fico como um debate, uma guerra interior de questões e respostas cuspidas numa velocidade maior que a da luz que me fazem cair pelo chão, enjoada e tonta. Um papel amarrotado que voa entre os prenúncios de uma Primavera com sabor a Outono… Um papel cheio de palavras escritas e reescritas sobre camadas de corrector na procura da expressão correcta, da frase certa para que as paredes me entendam, e para que o sol não escureça de mais…
E eu continuei a segurar-te perto do meu corpo, como se fosses em mim, mais do que eu sou, e ainda assim, és-me por inteiro. E no fundo, acredito que ainda não saiba como és, e consequentemente como sou contigo. Porque o espelho não fala para mim, e as vozes que me puxam entre valores e razões soam tão parecidas que se tornam zumbidos de abelhas no pingo do Verão.
E eu volto a cair, sabe-se lá para onde. Caio para lá do chão, caio talvez da nuvem a que subi, sem asas nem avião, eu fui-me embora, segura num balão…
Eu fui embora, mas nunca larguei a tua mão. Apertei-a com mais força como se te quisesse dizer que tinha chegado a hora da decisão…ou ficavas comigo, ou enfiavas-te num qualquer comboio, enquanto eu ficava a olhar para ti, sentada á beira da estação, quase sem expressão…
Porque sim, perder-te significaria perder-me, ainda que tu faças com que eu me perca e impedes-me de me encontrar até que a ti te encontre.
E respiro fundo, acelero o passo, caminho a teu lado até ao fim do mundo que nós não fazemos a mínima ideia de onde fica.
Eu continuo a achar que nunca vamos parar…enquanto a música da nossa caixinha de música continuar a tocar. Tu sempre achas que é ela que me faz chorar e por isso a calas como quem pestaneja para o sol, encadeado… Não me adivinhas, perdes-te aquela facilidade de sentires as minhas lágrimas molharem a tua face, quando molham a minha, e de a minha dor te parecer ainda maior por ser minha, e embater em ti…Ela agora trespassa-te como se fosses fantasma frio e vazio…e diz-me estás vazia? Não, digo-te, estás demasiado cheia…
Estás cheia de ti, e de todas as bolhas de sabão que te encheram e que ficaram dentro de ti, se impregnaram no coração e to encheram de caruncho e humidade…
E esqueceste-te que eu precisava de uma realidade. De uma coisa que eu pudesse tocar e de mil que pudesse sentir…Não um espelho onde me analisar, o que nunca acabo por conseguir.
Fugiste de ti antes mesmo de decidires que querias fugir, e por isso eu corri até o meu peito se fechar, se enrolar, se amarrar a algo que não eras tu, e ainda assim, ficaste em mim, e eu queria-te em mim…Porque sentia que em ti ainda podia ser a mesma menina que acreditava nos contos de fadas que nunca me contaste, e na pureza da água, e que ainda perguntava porque o céu azul, e porque o tempo passa…
Mas na verdade eu esqueci-me de tantas perguntas que tive de criar novas…
Quando vais voltar a ser parte de mim?
Quando deixarás que eu possa confiar em ti?
Quando vais tu perceber que por mais que cresça as minhas lágrimas vão sempre ser as mesmas…vão sempre ser cheias de ti e do que puseste em mim…
E eu continuo a segurar na tua mão, enquanto caminhamos até a um lugar qualquer, sem qualquer razão…
Eu continuo a segurar-te perto do meu corpo, até que te dês conta que sou eu quem te suportou…

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