sexta-feira, 27 de novembro de 2009

27.





Não preciso da lua, do mundo, ou de todas as estrelas do céu. Preciso apenas da tua mão e do conforto do bater do teu coração.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Sistema.


Por vezes dá uma vontade tão grande de esquecer e correr para ti.

Esquecer que na minha segurança, vou estar sempre exposta a um perigo maior por consequêcia.

Mas por vezes dá uma vontade tão grande de deixar os olhos brilhar, e de abrir todas as portas meio-trancadas por uma razão muito pouco certa de estar certa, de não esperar sequer mais um segundo, de fingir que a minha paciência acabou e que só me importa o depois, depois. Dá essa liberdade no coração, que o deixa livre na exaltação, mas o prende na razão e depois é a garganta seca, os olhos a fechar, e um monte de cenas em câmara lenta teimando em passar. Estás tu e eu, e o resto é uma luz fraca. O resto não importa nada, Deixa de importar quando sinto sem sentir, os teus braços desarmados e o teu corpo surpreendido e estático.

Sei que me seguro a esse sentir, sei que o enceno, e o guardo e vou guardando, de modo a que cada palavra instintiva que me saia embargada de sentimentos, venha tingida dessa tua cor...Que eu sei lá qual é! Só sei que a vejo algures na luz fraca, e ela chega para embalar todo esse espaço em que só caibo eu, tu e um sentimento que conhecendo tão bem, penso ter aprendido a desconhecer.

Oh! Se ao menos eu pudesse correr para ti sempre que não consigo aguentar toda aquela emoção demasiado alarmante, quando se torna quase impossível de camuflar, de carregar no silêncio a ânsia de dançar debaixo de chuva num dia de Inverno-Verão.

Se ao menos pudesse embater no teu peito, quente e apaziguador da minha guerra interior, esse abrigo aliciante que me varre quaisquer tipos de medos e dúvidas...

E se ao menos tudo fosse igual ao meu abrigo proibido...Se tudo me conseguisse embebedar de não-questões, não-preocupações, não-corações quase a explodir pela espera aterrorizada da afirmação dos 'diz-que-disse', não-tremeliques insinuados a cada gesto por essa timidez estranha e reveladora, não-coisas complicadas, não-coisas enleadas com demasiadas pontas.

E posso descobrir nas tuas palavras escassas, que tens a noção de que me apetece quebrar todos os monólogos que se repetem dia após dia, e que me entram em ondas de pura boa exaltação (ignoro a percepção de que para mim são 'as melhores', no topo do ranking, porque irremediável e insolentemente eu obrigo-me a obrigar-me a obrigar-te a ficar numa das camadas mais superficiais da minha lista de heróis [sabes, até isso requer uma certa prática...Nestas batalhas travadas comigo mesma em que me não decido entre o mais fácil, o mais certo, o melhor para mim [o que será que é melhor para ti?], coisas essas que esbarram umas com as outras e esoalham-se e misturam-se e PUFF! Que complicação! ]Oh, e que vontade consequente de correr para ti e esquecer...)

Por vezes dá uma vontade tão grande de correr para ti, de embater no teu peito, de esbarrar no teu corpo, de ficar em ti.

De cerrar os punhos, fechar os olhos e sentir-te ali. De agarrar o colarinho do teu casaco e enterrar a cabeça no limite do teu pescoço...na cova do teu ombro, deixando-me afogar na emoção, na pulsação acelerada, nos batimentos cardíacos triplicados, quadriplicados, nas convulsões que se desenrolam entre a minha pele e os meus músculos, por baixo das unhas, na nuca arrepiada, e nas costas tensas que não conseguem inibir perante mim a vontade de sentir algo que as agarre, e as procure, que se segure nelas, enquanto o corpo restante se contorce num deleite desarmado.

Oh! Que perigo que és! Que salvação...

E que vontade, meu Deus, que vontade de to dizer, para que finalmente me vejas correr para ti...para que eu não tenha de me parar lembrando-me que nada é assim tão fácil.

Por vezes dá uma vontade tão grande de correr para ti, de embater em ti, de me misturar contigo...Por vezes dá uma vontade tão grande de adormecer em ti.

sábado, 14 de novembro de 2009

Não digas nada, por Fernando Pessoa :')






Não Digas Nada!





Não digas nada!

Nem mesmo a verdade

Há tanta suavidade em nada se dizer

E tudo se entender —

Tudo metade

De sentir e de ver...

Não digas nada
Deixa esquecer.






Talvez que amanhã

Em outra paisagem

Digas que foi vã

Toda essa viagem

Até onde quis

Ser quem me agrada...

Mas ali fui feliz

Não digas nada.

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"


'Há tanta suavidade em nada se dizer, e tudo se entender...'

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Criança.



Percebo melhor á medida que as horas passam, que os dias passam...que as noites, e as luas, e as alegria e tristezas vão e voltam...
Adormeço embalada pelas notas do piano que assegura a sua presença na minha mente...é como se estivesse estado sempre ao seu lado, todo este tempo...sempre naquela melodia lenta e demorada.
Sinto-me criança.
Sinto-me criança a sonhar, a voar, a deixar-se levar por um mundo fantasioso. E sou como as crianças...eu não vou parar de jogar, de brincar enquanto não cair. Enquanto não chorar e dos meus joelhos jorrar um sangue quente e vermelho, enlameado...
"- Depressa, temos de desinfectar isso, se não começas uma infecção que até..."
Que até...
Lembro-e destas palavras de quando era pequena. Lembro-me delas, não sei como ou porquê, mas elas ficaram. Talvez seja porque agora já ninguém diz:
"- Vamos, rápido, temos de desinfectar o coração, senão a infecção até se torna pior..."
É tão cruel ter um coração infectado... Ter um coração que precisa de algo que o torne mais completo, porque ele não se acha suficientemente cheio para si...Um coração que não é capaz de esperar sem temer, mas que treme e vacila sempre que palavras embatem contra a sua armadura.

Ela está tão cheia de mossas, que mais uma poderá fazê-la rachar, fazê-la cair, e deixar-me nua.

Mas eu continuo a ser essa criança que eu sei que sou. Continuo a ter plena consciencia de que me quero embebedar dessa felicidade, ainda que teime em tentar querer parar.

E eu tenho um coração infectado. Tenho um coração que se cansou de construir um muro enorme, para agora o ver cair, a pouco e pouco...Tenho um coração que agora corre livre, como se esquecesse por momentos que a qualquer altura pode faltar o chão...que a qualquer altura o seu peso pode puxá-lo para baixo com toda a força característica da lei da gravidade.

Percebo menos, á medida que as tua palavras vão tendo efeito em mim...á medida que as quero guardar, como se me pertencessem, e no entanto as receio ver por aí espalhadas...

Eu tenho medo. Só medo, apenas medo. Uma boa dose de medo. Uma boa fatia de medo. Medo a rodear-me como se fosse uma ilha perdida no meio de nada. Medo a entrar pelos meus poros e a pôr-me um esgar na face e meia dúzia de tremeliques nas minhas decisões.

Funcionas como veneno semi-doce, um veneno que não me mata por inteiro, e que por metade me faz renascer...

E eu sou uma criança. Uma criança que continua a beber desse frasco que deixaste por aqui, com uma cor bonita, um vidro brilhante e um cheiro deveras apetitoso...Porque as crianças são assim...deixam que tudo pareça mais alegre do que é, mais real do que é...E em tudo vêm sonhos, e emcima de qualquer terreno constroem castelos.

Sei que vou deixar de perceber ainda mais do que já não percebo...Vou começar a correr porque não posso parar, porque já não me é permitido tempo para descansar...como se as leis deste sentimento adivinhassem que se parasse, me ia esquivar para trás...Ia fugir em direcção ao 'era uma vez...' e ficava por aí...Até que adormecesse.

E talvez caia mesmo. Talvez o chão desapareça mesmo debaixo dos meus pés como artes mágicas e as minhas asas não cresçam a tempo de me fazer pousar levemente. Talvez que magoe os joelhos e os enlameie com sangue á mistura...

E nessa altura, nessa mesma altura, onde vais estar tu, para me segurares, para fazeres com que eu sinta a outra metade que me falta preenchida?...


'Não tenhas medo, eu vou segurar-te...'



domingo, 8 de novembro de 2009

I'll be right here...




- Está tão escuro aqui, nesta esquina da vida. Parece que parei no Inverno, parece que as estações não vão passar mais...Tenho medo.


-Vem cá...Dá-me a tua mão, vais ver que o medo vai passar...E amanhã o sol vai raiar, mesmo por cima das nossas cabeças, um sol de Primavera, morno e esperançoso. Vais ver que este frio passa, que este medo passa. Dá-me apenas a tua mão.







*I'll be right here, were your angels fall. Right here, wherever you need me,

Right here, ready to walk with you, no matter how far, no matter

how pain it takes...Just, try to be happy. Just...let me help you boy.

Entre nós.

" (...) A certa altura, entre ti e mim havia uma multidão, vivíamos com aquela sinistra companhia, pousando os pés num soalho tão fino e transparente como uma camada de massa folhada. "
Eu tentei tanto não ser assim, aguentei tanto todas essas coisas que no final elas libertaram-se por si mesmas...vomitadas, em jorros pestilentos de coisas duras e amargas.
Fechei tanto em mim as palavras mais aguçadas, que todo esse tempo elas foram limadas, e tornadas pontiagudas...tão pontiagudas quanto punhais...E quando saíram, feriram-te. Rasparam-te na pele e deixaram um ardor incomodativo, que não passou...É por isso que não gostas que elas sejam dirigidas a ti...mas gostas das dirigir aos outros...
Porque elas funcionam como alcoól...faz bem, mas arde, dói...Cura, mas provoca lágrimas...
São as verdades...que tu tentas ignorar a todo o custo, que já não queres ouvir, porque são passado...e que não percebes, não consegues perceber...deixaram tanto no meu presente.
Agora, os teus gritos são como o som do roçagar das árvores...passa-me despercebido.
Agora, as tuas lágrimas são como a chuva a cair...frias, negras...vazias.
Agora, o teu peito é duro e rochoso, e não faz qualquer sentido para mim.
Não fazes qualquer sentido para mim. Eu não te consigo encontrar, nem faço ideia de onde te perdi.
E se me perguntarem se gosto de ti, o que sinto por ti...eu não sei. Eu quero dizer coisas horríveis, mas não sei se elas continuam a sair para te magoar, para te fazer sentir aquilo que já senti, aquilo que eu combati e que me tornou forte...Ou se para te mostrar que tu continuas fraca. Continuas fraca e as tuas fraquezas são relfexionadas para mim...eu sinto-as todas, como uma mão que me empurra, como um olhar que não me vê como realmente sou...como um coração que não sabe amar aquilo que de bom eu posso ser, mas consegue ver e dar um valor obsceno a tudo aquilo onde erro...
Tenho a certeza que é isso que nos distância. Que nos afasta do lugar de onde nunca deviamos ter saído...mas possas...Eu esperei tanto tempo por ti...
Eu esperei tanto tempo que voltasses a olhar para mim...

sexta-feira, 6 de novembro de 2009


[Imagem por ehsvepsfini.]






"- Não perguntes porquê. Não te ponhas a pensar no sentido das coisas. O significado pouco ou nada importa. Se começares a pensar nisso, os teus pés ficam bloqueados. (...)Por isso, nunca deixes de mover os pés.Continua sempre a dançar, dê lá por onde der. Mesmo que te pareça uma perfeita estupidez.Continua sempre a fazer os passos, um após o outro.E tudo o que estava endurecido e bloqueado, aos poucos começará a perder a rigidez. Para certas coisas ainda não é demasiado tarde. Utiliza todos os meios ao teu alcance.Dá o teu melhor.Não há que ter medo. Bem sei que estás cansado. Cansado e com medo. Acontece aos melhores, não sei se estás a ver? Toda a gente passa por isso, por esses momentos em que tudo parece perdido. Agora vê lá, não deixes que os teus pés fiquem parados."




Haruki Murakami in Dança, Dança, Dança.










" Atira-te! Não achas que já é tempo de te atirares?..."


quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Em quem pensas tu antes de adormecer?


“ Em quem pensas tu antes de adormecer?
A quem pedes em silêncio que fique, que aprenda a adivinhar o teu olhar, que te siga os movimentos ainda que não saibas que o faz?
Quem é essa pessoa que te revolve, e te confunde numa maré violenta de perguntas e respostas meio formuladas, de acontecimentos e factores que tentas adivinhar, entre o medo de cair e a euforia de te darem corda ao mecanismo das asas? “

Calo-me. Cala-se a minha voz da mesma maneira obrigada que o imponho ao pensamento quando o quero no estrato mais subconsciente e ele, resiste por ficar a pairar como ideia principal.
Calo-me porque as minhas palavras podem fazer ricochete e acertar-me em cheio nas costas, como duas palmas de mão que me empurram e impulsionam, embatendo no meu sentimento meio distraído (meio, porque sei que ele lá está…só o ignoro, por vezes, quando possível)…
E ele pode não se segurar, nessa certeza que ainda não tem e cair em queda livre, sem sequer saber o que o espera lá em baixo…do precipício.
Não gosto de me desaperceber que o tenho em mim. Que por vezes o carrego no peito, de esperança em riste, e muitas outras, o levo às costas, um peso morto, mais vivo de medo que morto de impaciência. Que o levo escondido.
Não gosto de fingir que me esqueço, porque depois quando me lembrar consciente de que o faço, já não sei onde estão os meus pés. Muitas vezes tenho um em cima, ainda em terra firme, e o outro quase a descambar pelas encostas a baixo…E é isso que me mete medo, que eu não possa gritar, não possa decidir o que fazer…se cair, se voltar atrás e ficar quieta na plenitude do cima da montanha. E se ficar assim, nesse meio, nesse aqui, ali, sei que não vou pensar…Sei que vai sair da minha boca como se fosse mais urgente dizê-lo que respirar, apenas para não ficar no impasse, não ficar presa por uma meia dúzia de força insustentável com o passar do tempo e numa deliberação com prazo de expiração…
Por isso eu não me debruço demasiado sobre a imensidão escura…Não me questiono demasiado para não me tentar…Não me sento…Não olho para baixo…Não vá escorregar e cair…Não me vá eu deixar fugir antes de ser tempo de o fazer. E é o tempo. Sempre o tempo…o tempo e tudo o que ele traz atrás, anexado a si, como as folhas necessárias para realizar um trabalho de grupo. Traz resmas e resmas de folhas…resmas de folhas com indicações…com escolhas múltiplas, onde tenho medo de errar o lugar do x. Onde se errar, a pontuação não desce, mas eu desço…
O tempo, que não nos torna simples o amadurecer de um sentimento, que nos deixa sempre entre o ir e o ficar, entre o arriscar, ou o esperar, porque se esperares talvez possas vir a arriscar, e se arriscares possas vir a perder, mas e se não arriscares e perderes? Ficas convicta que seria diferente se tivesses arriscado.
Mas para mim…é cedo. Ainda tem de ser cedo, para que não o façamos ser tarde de mais…


“ Em quem pensas tu antes de adormecer? O que pensas ao adormecer? Relês todas as frases, bebes todas as palavras mais uma vez, só para que fiques mais segura…Fazes de conta que elas têm o mesmo sabor que quando ditas, para que não venhas a precisar de mais…Para que não precises de ficar na espera. Porque querendo ficar, dizes que não o queres. É uma forma tola de tentar convenceres-te de que ele ainda não te atingiu por completo. Ainda não te cativou, ainda não fez os teus olhos brilharem. Mas na verdade tens a plena noção que no escuro, eles parecem faróis na intensidade máxima. Já to disseram e já o ouviste. Não param de o repetir, e tu não paras de querer ouvir outra e outra vez, e não consegues parar de sentir um poucachinho mais de esperança ao ouvi-lo…no fundo é por isso que queres que te digam que agora os sorrisos são tolos, e os toques pequenos e suaves, para que te façam tremer e para que não te consigas ainda habituar…”

É tão simples dizer e saber que quero que por vezes começo até a perguntar se quero mesmo, se é assim tão simples, tão cheio de tudo isto, estas emoções todas a que já me não estava afeita. Parece ser sempre demasiado…para que o seja mesmo. Estou sempre á espera de ver surgir algo que me diga não de forma clara e sucinta, para que deixe de andar nesta roda-viva e saiba que é igual aos outros.
Mas na verdade, se continuar a ignorar que não é, talvez nem eu mesma consiga ser suficientemente feliz que justifique o facto de não ter lutado pela felicidade, e tê-la deixado fugir de debaixo dos meus pés…
As palavras nunca me chegam. Não me saciam, não extinguem a vontade de voltar a ouvir tudo de novo, repetido. Seguro-me aí…com o medo ansioso de me faltar esse apoio num ápice…enquanto me distraio um bocadinho.
Não as vou dizer. Não as posso dizer ainda. Agora, que ainda não sei quais as que me dirias, para além de tudo o que é dito. Para além de todas as frases com sentimentos camuflados, que percebemos, mas que fingimos não perceber, na expectativa que um abra o jogo…
Que ponha as cartas na mesa, sem impedimentos… Mas ninguém o faz, porque nenhum de nós está certo ou seguro de saber com todas as convicções que não vai ser injustiçado por um sentimento de menor valor que o esperado…
Por enquanto nada chega para que possa sair por aí dizendo que consegui voltar a sentir aquele tremor característico…aquele que quando sentes, te faz ouvir uma vozinha na cabeça que diz sempre o mesmo…: “Pronto…Já está…! Já foste…”
Já está…a mesma expressão de uma tarefa acabada. Eu concluí apenas a primeira. A de saber que sim, que penso em ti antes de adormecer. A de acreditar e aceitar que sim, porque…sim. Porque enquanto for assim, enquanto não
chegar…vai parecer que há sempre mais…mais para lá de tudo o resto.

“Em quem pensas antes de adormecer?”

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Beleza (?)

Falam-me de beleza. Tanta gente me fala de beleza e eu penso ‘Hum…Mas o que estão eles a dizer? ‘, e se não me falam eu vejo pragas da palavra ‘Beleza’ em descrição de fotografias , palavras ‘desbandalhadas’ que no final fogem quilómetros ao que a palavra significa.
Beleza. Ah! Eles chamam beleza a um cabelo comprido, brilhante igual a mais de não sei quantos…AH! Eles chamam beleza a um sorriso mal oferecido, e a uma boca cuja não cansa de repetir coisas rudes, que não avançam com o mundo, ou seja…que o fazem retroceder…
Que estranho…eu não conheço a beleza por algo vazio, por uma maré cheia de coisas que se podem agarrar, usar e depois deitar fora. Não conheço a beleza por uma blusa que até tem purpurina e brilha á luz do sol…um brilho falsificado…
Não a conheço por isso, e não a quero conhecer assim. Ela não é assim.
Beleza não é chegar, não é abanar o corpo, e dizer ‘Olhem para mim’; não é dizer ‘és tão linda’, numa mera fotografia…Não é nada dessas coisas que nada têm de verdade a não ser um pouco de conveniência e aspiração social.
Dizeres a alguém que é bonita, impõe que a admires, e tu não podes admirar algo que desconhecesses. Não podes admirar um coração se não sabes do que é revestido, e não podes admirar a forma como a voz sai calma, se nunca a ouviste. Não podes sequer rejubilar com os actos dessa pessoa pois tu não os conheces só de os olhares. Não os sabes de cor, como se ela fosse importante para ti, como se a conseguisses adivinhar .
A beleza estende-se para além de tudo isso. A beleza chega até ao fundo do coração, tem de o analisar pouco a pouco, tem de ver a verdade, passar pelo respeito e cumprimentar a consciência. A beleza tem de ser bela. Tem de ser agradável de todos os prismas, tem de ter todas as faces limpas e seguras, tem de ser algo em que te possas segurar e dizer que não vais cair, que não vais deslizar.
Irrita-me abrir a página da Internet e ver hi5’s de pessoas que não passam de meros ignorantes, convencidos que utilizam frases poéticas como se realmente soubessem o significado prático e sentimental delas. Que falam de respeito e de amor, em perfis cheios de palavras vaidosas, que apenas lhe escondem os actos contrários. Elas não servem para isso, tal como a beleza não serve para esconder um coração fracassado…E digo coração fracassado porque ele não consegue amar. Não consegue ir para além daquela espécie de ‘gostar’ que tem mais de aspiração que outra coisa…Que tem mais de ‘ Deixa-me lá dizer uma palavra simpática para ver se subo mais um bocadinho…’
O que é isso gente?
Não são palavras. Não é beleza. Acaba por não ser nada. Acaba por ser algo mal utilizado, uma verdade injustiçada por tantas máscaras, tantas tentativas de esconder um interior medroso e frustrado…
É preciso ser-se belo por dentro. Ser-se belo para além da aparência bela que dão as primeiras quatro palavras trocadas. É preciso que a beleza se mantenha á medida que vais conhecendo alguém, ainda que nessa pessoa existam falhas…Mas falhas belas. Falhas que ela aceita como tal e até tenta melhorar…
A singularidade da personalidade leva a que a beleza se estenda á admiração. És admirado porque a tua personalidade é bela, e não porque a tua cara parece dar-te essa parte da beleza da singularidade da personalidade que não tens.
O sabor amargo de ver essas palavras espalhadas assim, como folhas das árvores pelo chão no Outono, por vezes, dá até vontade de parar o trânsito. De parar as pessoas, os colegas da escola, essas gentes vazias que engolem palavras falsas, com sentimentos falsos, apenas para encherem um ego que não tem. É tudo falso, tudo vazio, tudo folhas de papel amarrotadas e em branco…
E depois de tentar fazer com que tudo isto seja percebido, olho para as suas faces e eles riem-se…Riem-se como se uma piada tivesse acabado de ser dita…
Na verdade, a beleza vê-se em coisas pequenas, coisas simples, que sendo tão descomplexadas poucos conseguem perceber.
Esse é o problema...Estamos tão rodeados de coisas que nos chamam a atenção com letreiros luminosos em Las Vegas, que tudo isso nos deixa cegos...Cegos numa aparência alegre e vazia que ignoramos.