sábado, 19 de dezembro de 2009

Dirty dancing 2.


" O movimento tem de ser livre como a água.
(...)
É uma dança em que se é exactamente o que
se quer ser naquele momento. "

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Tonight, Your arms feel like home.



Depois do barulho, silêncio. Depois da música aos altos berros, do fumo, da confusão. A calma, os pensamentos, o olhar fixado em lado nenhum.

Já estive. Já saí, já fui embora. E nesse instante não me consegui pôr completamente fora. Talvez esteja a voltar agora, e este voltar nem seja um voltar completo.

Talvez seja só uma vontade alargada de o fazer. Uma vontade proíbida, a que ponho barreiras de cimento, enormes e pesadas. Para não cair na tentação de lhe corresponder.

Sinto já o arrepio que percorre a pele, um tremor interno. O calor passou. O coração bate mais calmo, e parece ter os olhos mais abertos. Ou mais fechados. Ou mais pousados em ti.

Páro um pouco, relembro um pouco.

Hoje os teus braços chamaram-me, como se me soubessem a casa.

Hoje os teus braços, fizeram-me querer sentir em casa. Ficar por lá entre o teu calor.

Não vou olhar para trás, profiro, enquanto cerro os dentes e fecho os punhos,para ter a certeza que fica bem gravado, que chega para esquecer o desejo súbito de fazer exactamente o contrário.

Não sei ser simples, e não faço ideia de quando o começarei a saber. Fazem-me confusão estas confusões de confusão onde me enleio, e onde me prendo.
E isto é tudo acerca de mim, porque fui eu que te fiz ir. Sabendo que a qualquer altura poderia querer que ficasses, sabendo que quando te ouvi dizer aquele adeus personalizado e disfarçado, o meu interior implorava-me que dissesse, pelo menos uma vez as palavras que queria mesmo dizer, e não as que achava correctas. Aquele ‘vou ter saudades tuas’ que agora se cumpre, como profecia.
Deixar a loucura tomar conta de mim, por uma vez, a ânsia percorrer-me o corpo. Arriscar fazer tudo aquilo que me assusta, que me repele e me chama.
Sou tão perigosa para ti agora, que deveria existir uma qualquer vacina que te fizesse imune. Ainda assim, eu sei que já não faz qualquer diferença, e que a minha mente divaga sozinha nesse ‘nós’ que eu não faço ideia se aceitaste como existente…Ou se achas que não chegou.
E se me perguntares, porquê tudo isto…eu só conseguirei dizer-te que sou fraca perante as ausências. Que preciso das pessoas que me aquecem o coração, ainda que esse calor não arda.
Que ele ainda não esteja com chamas altas e consiga encher tudo.
Questões de tempo que puxam decisões arriscadas. Ficar, ir. Chorar, sorrir. Tentar, desistir. Só mais um pouco. Não, está na hora. E eu não sei lidar com elas. Parecem-me monstros, com dentes compridos e olhos enormes, prontos a engolir-me ao primeiro som que me fugir da boca. E eu não sei agarrar apenas numa. Abrir os braços como se fosse abraçar o mundo para uma opção, sem antes medir o perigo, a vontade, e tudo isso que me põe ainda mais tonta do que antes.
Mas esta noite, os teus braços chamaram-me como se achasse que ali pertencia. Que ali, era estar em casa. Juro-te que a minha mão quis agarrar a tua, como outras tantas vezes e ficar a amachucar o teu casaco, enquanto eu fechava os olhos e deixava que o silêncio de confundisse ainda mais. Te deixasse ainda mais a achar que eu não sei o que quero.
O que é que tu tens para não te querer assim, longe? Que medo me proíbe de te deixar ficar assim, perto? Não há tempo para estas contrariedades. Não há paciência, não há motivo de espera. Não há uma só corda firme que nos mantenha ligados nesta aparência de desligamento.
E eu cerro os dentes, fecho os punhos. ‘Não vais olhar para trás!’. E de seguida viro as costas, levanto o olhar do chão, e lá estás tu. Do outro lado de um qualquer mar de águas frias e tóxicas que eu quis passar. Do outro lado do mundo. Do outro lado da parede de vidro enorme e transparente que prolonga um pouco mais a vontade, e a dor subtil que traz agarrada a si.
‘Eu vou ter saudades tuas, e vai doer.’ Já dói e eu não o quero ver, vendo-o melhor do que a mim. Engulo em seco, não contigo, não desta vez, não assim.
Mas eu vou ter saudades tuas. Mais do que as que tive. Mais do que as que tenho. E ainda mais que aquelas que achei possível sentir.
Viro de novo a cabeça para a frente, baixo os olhos, e obrigo-me a andar. A distância aumenta e eu não me posso queixar, não posso berrar, não posso dizer que a culpa não foi minha, que fui obrigada. E sei, continuo a saber, que não me importa os olhos com que te vêm, mas sim aquilo que os meus me dizem de ti.
E há uma qualquer parte no teu interior que enfraquece o meu, que o torna vulnerável, e o faz guardar-te ainda. Agora. Amanhã, e impossível de calcular por quanto mais tempo.
Hoje, os teus braços chamaram-me, como se fossem o meu lugar.
Hoje os teus braços chamaram-me, como se me soubessem a casa.
Estou longe demais para que os passos apressados me façam ainda chegar a ti, que continuas a andar na direcção contrária.
Minha culpa!...
Olho para a frente, apresso a corrida, e continuo a acreditar que quanto mais correr para longe, menos presente vais estar.


quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Caminhar.


Já pus de parte as minhas palavras, já condenei sonhos e já amei com a força de mil homens.Sei ainda que tenho imensas coisas para dizer, mas parece que já não tenho magia suficiente para as explicar.Sinto-me meia. Odeio sentir-me meia. Meio acordada, meio adormecida.Parece que vivo no entretanto e deixo escapar a vida por meio dos dedos...areia fina numa praia vazia, com as ondas calmas e a água transparente.Fui eu que escolhi assim. Fui eu que quis ficar na corda bamba...naquele vai não vai...na impaciência, no "não sei"...
Não encontro uma música que me preencha hoje, não encontrei ontem.Apetece-me agora descalçar os ténis, pôr os pés no alcatrão quente e seguir pela estrada abaixo...seguir para o nada, e ter a certeza que vou parar a algum lugar. Talvez eu deva ficar lá. Talvez me apeteça voltar, mas agora eu não quero apenas estar aqui, onde todas decisões pesam como chumbo, em que os corações são como o cristal. Eles são feitos de cristal, com mil formas desenhadas e lapidadas nos lençois da memória. Tenho a certeza que deixei cair o meu...Rachou.Não partiu. Apenas ficou riscado, riscos fundos e sujos.
E se eu pudesse, eu já estava a caminho do nada. Mas estou presa aqui. Presa por tanta coisa que eu quero pôr para trás das costas...
Deixei de temer a escuridão no dia em que me encontrei nela. Deixei de temer tudo neste mundo, tudo nesta vida, no dia em que me propus a viver na corda bamba...
Nem a morte me arrepia agora...Nem os monstros me fazem encolher na noite. Já vi demasiadas monstruosidades.
Como somos egoístas...Como eu sou egoísta...
Não querer por completo um amor que não me pertence...e não deixar que esse amor pertença a quem ele deveria pertencer.
Como me ficam bem agora as gotas da chuva no olhar...o meu olhar baixo que fica perdido nas flores deste chão de terra...Não é vergonha...é tristeza. Não é medo...é distorção.É apenas o orvalho, pois do meu olhar não se verte mais nenhuma lágrima...Não se verte mais nenhum carinho. Fria que nem gelo, dura que nem pedra...Aprendi a ser assim. Ou pelo menos aprendi a mostrar aos outros que sou assim.
E um dia talvez até voltasse. Até sentisse saudades de ver os campos, de olhar o sol nascente com o ar ainda húmido, de me sentar na varanda do lado detrás, e ficar sempre espantada mais um pouco com o brilho das estrelas. De pensar, de me perguntar como conseguem elas.
Mas agora, eu gostava de esquecer tudo, e caminhar para o nada. Como se realmente conseguisse ser vazia por alguns meses, vivendo como uma caixa de papelão. Como se aprendesse tudo de novo, porque quando aprendes demasiado, quando sabes demasiadas coisas, começas a não saber nada e a confundir tudo. Quando tens demasiado, quando guardas demasiado em ti, ficas demasiado cheia, demasiado ocupada...e precisas de te renovar. Como nas limpezas do Verão. Voltar a pintar as paredes do coração, voltar a vasculhar os cantos esquecidos e cheios de mofo, voltar a abrir as janelas, e as portas para deixar o ar entrar.
Estou cansada de começos, mas não consigo não o fazer. Não o querer fazer.
Talvez que com eles cresçam também esperanças renovadas, e uma vontade mais segura, mas eu continuo sem saber enfrentá-las e levá-las até ao fim. Parece que em todos esses novos começos, as novidades são também, novas e isso assusta-me. Repele-me na direcção contrária.
Os sonhos são assim difíceis. Não se trata só de lutar por eles, mas de saber esperar por eles. De fazer o certo, na altura certa, para a pessoa certa, com a pessoa certa, no lugar certo, com os recursos certos, e os sentimentos certos. É muita coisa certa, não é?
É muita coisa certa para um interior tão misturado como o meu, onde não faço ideia do que possa ser o certo, em que sentido será certo.
No fim de tudo, continuo com aquela vontade de sair. De desnudar os pés, e de os submeter ao quente do alcatrão. E caminhar, sem pensar em nada, sem querer nada, sem tentar nada. Caminhar, no sentido literal da palavra. Caminhar para longe daqui, para perto de mim, ou para longe do que quero, ou para perto daquilo que posso não querer, mas que posso vir a querer, se souber que vou encontrar o que preciso.

E o que preciso agora? Caminhar, é apenas isso.



sábado, 12 de dezembro de 2009

Afasta-te.

Vou fazer de conta que tudo está leve agora.
Vou procurar um ombro qualquer,
uma imitação barata.
Porque desta vez serve tudo.
Desta vez não importa o tempo que ficas, ou o tempo que quero que fiques.
Desta vez, não importa se
continua a chover sobre mim.
Só quero esquecer que me lembrei.
Só quero que este peso não me afunde o coração,
Não mo ponha quieto sem bater.
Não me faça tremer.
Afasta-te de mim.Sai daqui.
Preciso de não te ver, preciso de não te saber.
Preciso de não precisar de ponderar nas tuas vontades.
Vou sair por aí. E desta vez, lembra-te.
Desta vez serve tudo,
Desde que vás embora.
Desde que fiques longe do meu querer.
E a cada palavra que digo, eu ponho
um pouco do grito surdo.
Porque é nesta vontade de te expulsar de mim
Que te vou guardando,
cada dia um pedacinho mais...
E porque é nesta sensação de que me
tornas mais leve, se acreditar,
Que me pesa no coração, saber que isso
começa a não me chegar,
cada dia um pedacinho mais...







Tenho a certeza que te vais lembrar de mim,
se tiveres de o fazer.'

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Favores em cadeia




" Acho que as pessoas têm muito medo que as coisas possam ser diferentes.(...) É difícil para algumas pessoas que estão habituadas ás coisas como elas são, mesmo que estejam mal, mudarem. E desistem. Quando o fazem, todos perdem."
Pay it forward (Favores em cadeia)

domingo, 6 de dezembro de 2009

Dar em louca! |:


É incrivel como não me sei. Não me sei de lado para lado nenhum. Não me sei ao contrário, do avesso, e muito menos me sei ás direitas.
Não me sei a nenhuma hora, até naquelas em que acho que me sei, deixo de me saber.
Esqueci-me de ter noção que me sabia quando ainda me sabia bem, e me sabia em todos os sentidos do nenhum que estas frases fazem.
Simplesmente perdi-me no meu saber, e dói-me. "Dóio-me" em toda a extensão do algo que sou, que não sei saber o que é.
Parece até que saí de mim, e andei por aí a vaguear, voltando maior, e ainda assim mais pequena.
Trouxe mais em mim, mas do muito que trouxe, pouco me faz falta e pouco me ensina. A maioria é enchimento. São pequenos cubos de esponja com que se enchem as almofadas.
Um dia sentei-me em frente ao espelho, e olhei bem para o reflexo. Fazia cada movimento mais devagar, para o conseguir avaliar...para ver como todos os outros viam...E bem, não encontrei nada de brilhante. Não encontrei nada que me encontrasse ou me fizesse encontrar. Parecia mais uma boneca de porcelana cuja corda ainda durava, que um ser humano cujo coração bate, os olhos se entornam quando demasiado cheios, e o calor abraça o frio num choque de temperaturas.
Eu não me sei. Voltou a ressoar dentro de mim. Na inconstância das coisas, na ironia do momento e no habitual da minha distracção trambolha dei por mim a ouvir:

"Bem, pelo menos não estás vazia. Pelo menos tens esta voz irritante para te fazer charadas e te ir confundido as palavras quando achas que elas formam uma resposta. Sempre te podes entreter a tentar desmontá-las e remontá-las como um puzzle sem peças para encaixar."
E eu faço-o. Eu fico ali, fixada no nada há espera de conseguir separar cada palavra, depois cada frase, e por fim perceber o sentido que tudo aquilo faz. Mas nada encaixa. Vou-me vendo contrariada por um bicho estranho que carrego algures, numa metade mais imediata e maior no coração, e outra, mais retórica e racional no cérebro.
Se tivesse que falar dele, diria que não me pertence totalmente. Já pertenceu, mas agora, nem parece ser o meu. Deitou umas quantas coisas há rua que eu não disse para pôr sequer em sacos aquando as limpezas grandes do Verão. Tirou o pó de outras quantas, que eu guardava no sotão e que eu afirmei que era mais seguro nem tocar. E ainda foi capaz de pôr adereços novos, uns que ao princípio eu achei aberrações, e agora até ficam bem, até dão um ar confortável; outros com os quais enchi cantos e mais cantos das divisões, e achei que ficavam perfeitos e que sim, era mesmo aquilo que era necessário para ali, e que neste momento nem sei onde pôr...Começaram a destoar, a ficar baços e cada vez mais pesados em relação ao ar leve de que precisava ali dentro.
E se me fosse obrigado a acrescentar algo mais, diria que ele brinca comigo, e leva-me a brincar...é como andar ás cegas com uma faca na mão...Podes rasgar apenas o tecido, mas podes também rasgar a pele de quem te aparece...Podes mandar embora alguém que te quer tirar a venda, e podes também deixar ficar aqueles a quem dá jeito que a tenhas em frente aos olhos (e ao coração!), enevoando-os.
Enfim...ele já foi mais sincero e calmo. Já me soube e já me fez saber melhor.
Sempre que o tento fazer ficar quieto, que lhe ato braços, mãos e pés, que lhe calo a voz, ele arranja sempre forma de me prender a mim. De me pôr entre o abismo e a lâmina da espada.

É como se me dissesse: "Força...é só escolheres, não é tão fácil? Ah, mas sabes, o que está no fundo do abismo pode ser bom...mas também pode ser mau...e de lá custas a sair...Em relação á espada, ela pode brilhar muito a teus olhos, mas não passar de um pedacinho de ferro velho nas minhas mãos."
E agora diz-me tu, eu...Como é que eu me posso saber, quando nem sei para onde caminhar?
Depois, são os pés. Eles não conseguem ficar parados por muito tempo...têm algo que os alicia sempre e lá caem...atrás deles caio eu.
E eu não me sei, e continuo a não me saber.
Sei apenas que me perco dentro do labirinto que substituiu a imagem que eu tinha quando me sabia. Lá, quando eu quero o frio, está o Agosto a meio. Quando eu espero o Agosto, espalha-se o Dezembro, e não existem quaisquer tipos de aquecedores. Quando me apetece descansar, obrigam-me a correr, o chão foge. E quando quero correr, o chão torna-se uma espécie de pasta ardilosa, um cimento aguado. Quando sinto a tua falta, tu não vens. Mas quando não a sinto, tu não me deixas. Tão depressa preciso de água, como de fogo, e tão depressa me canso do amor, como ele me é um bem essencial.
Já pensei precisar apenas de me afastar de tudo, e já pensei que precisasse mesmo de estar bem perto, bem junto.
No final, acabo por nunca querer estar num sítio só, acabo por nunca me encantar mais que breves segundos, acabo por saber demasiado quando o pouco me fazia mais feliz, e acabo por ver a felicidade como o mel numa armadilha para ursos, como a imagem de uma montanha coberta de neve. Para lá dela, não existe mais nada.
E não me sei!
E começo a achar que tenho graves problemas.

sábado, 5 de dezembro de 2009

I wish it were simple.


" She's waiting like an iceberg, waiting to change
But she's cold inside...(...)
And the fire fades away,and most of everyday,
is full of tired excuses but it's too hard to say.
I wish it were simple
But we give up easily.
And you still close enough to see
That you're the other side of the world to me. "




(...) Procuramos tanto essas sensações raras e boas de felicidade
e liberdade...de amor e carinho, de certeza...que acabamos por cair por capricho.
Ao tentar encontrá-las...perdemo-nos. E começa tudo de novo. A roda viva de
emoções nauseabundas. (...)

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Querida Aqua, um.

(Image by Deviantart)
Querida Aqua,




Bem sei de não saber de nada. Bem sei que por mais que tente adivinhar o que te vai pela cabeça ou pelo coração, a minha sorte vai ser pouca. Vai ser nula até.
Dóis-me , mas dóis-me devagar. Dóis-me como um mal-estar incessante que te revolve o estômago, que não diminui nem aumenta. Uma coisa que fica, e tu não sabes bem o que é. Que te pesa na alma, no coração e te esmaga, com uma lentidão devota.
E pequena, pequena, tu deixas-me tão perdida quando te perdes, de quando a quando…quando te vejo chegar com uma expressão livre, um sorriso aberto e um brilhozinho no olhar, eu sei que mais tarde voltas para mim, encostas a tua cabeça sem direcção no meu colo, e num soluço de silêncio desatarás a chorar.
Engoles as palavras, porque do tanto que tens para dizer, nunca sabes como o fazer, ou por onde começar, ou sequer se deves começar, se deves argumentar…acabas por pedir desculpa no tom de voz mais inocente e verdadeiro possível.
No tom de voz mais abafado quando puxas a minha blusa como se fosses cair, como se a todo o custo precisasses de te segurar, e quando enterras a tua face no meu peito, na procura daquela qualquer coisa que te começa a faltar. Que já te falta há imenso tempo e que nunca mais conseguiste encontrar.
Ao olhar para ti, pergunto-me repetidamente se o teu corpo não se terá tornado demasiado pesado para o tamanho das tuas pernas. Se a tua cabeça não será complicada demais para o tamanho do teu coração. Ou vice-versa. Se o teu coração não será grande demais para a pequenez dos sentimentos. Para o valor pequeno que todos lhes dão agora.
Tem dias em que vens ter comigo e me dizes que te sentes meio…Meio uma coisa qualquer. Na verdade, nunca me conseguiste dizer o quê, em concreto. Nunca mais chegaste perto de mim com o ritmo cardíaco a passar os 400 batimentos por minuto nem com umas asas invisíveis que te punham a cabeça sempre longe, e muito menos com aquele sorriso grande, enorme, como se fosse abarcar o mundo todo. Penso que aí não te sentias meio. Aí sentias-te tudo. Sentias-te completamente completa, e era bom ter-te perto…Onde quer que chegasses inundavas o ar de um sentido amoroso qualquer…embevecias simplesmente com o olhar.
Eras menina. Uma menina que sabia de tudo, e continua a saber…mas que agora, contrariamente ao que a sua voz e a sua decisão tinha imposto não se consegue afastar do mundo com a mesma facilidade. Antes, eras só tu, eram as tuas canções de realidade, a tua pequenez enorme, as tuas palavras sábias que ninguém sabia de onde provinham, a tua infantilidade de senhora. Eras só tu, e era tudo em ti.

Agora, cada vez que olho a tua face, naquelas horas em que não sorris nem choras, aquelas em que ficas fixa em qualquer ponto desinteressante, em que a tua voz se cala e a tua presença se apaga, sinto que já não és assim tão pequena, tão menina. Tão simples, tão colorida, tão sem intenção. Sinto que tu sentes isso tanto como eu, e que não o queres, mais do que eu.
Sentes-te culpada e apetece-te parar no tempo. Apetece-te pedir-lhe para que ele pare um pouquinho, para que possas ter tempo de te aperceberes do que não está certo. Mas minha pequena, ele não pára. E eu assusto-me quando te sinto parar.
Assusto-me quando vejo que a tua ânsia começa a diminuir, e as tuas ideias começam a fugir.
Assusto-me, porque quero-te como sempre te quis, e porque sei que te queres como sempre te quiseste, e não sabes mais como fazer para mais do que te quereres te tenhas realmente como te conheces.
Sei que ultimamente não tens sonhado. Nem tens dormido…
Passo pelo teu quarto em bicos de pés, na espera de ter de ser cuidadosa ao ponto de não te acordar como sempre fazia, mas agora já nem é preciso.
Consigo sempre distinguir no meio da escuridão o pequeno brilho meio baço, meio perdido (tudo meio!) dos teus olhos quietos, olhando atentamente o tecto como se nele estivesse alguma solução, como se ele te ouvisse e te respondesse a esses dialectos secretos que não ousas contar nem ás paredes.
Talvez que eles sejam um erro. Não arrisco dizer salvação. Agora não sabes o que é a salvação, ou sequer se precisas de uma.
Mas dois-me. Dóis-me todas as noites que andas em voltas redondas na tua cabeça e nunca sais do mesmo lugar. Quando remóis em ti mesma, quando eu sei que enches, e enches…e espero o dia em que não suportes mais essa aparência de estares enjaulada. E nesse dia, eu tenho de estar aqui…Tenho de estar antes que te estendas ao comprido no meio do rio, feches os olhos e te deixes ir, sem querer lutar.
Continuas a afirmar-me que estás meio. Meio qualquer coisa. Meio, nem tu sabes bem.
“Já não estou completamente de um lado, e ainda não avancei completamente para o outro”, replicas tu com uma voz baixa, como quando se confessa um pecado. “E tenho medo, tenho tanto medo.”
Eu olho para ti, na minha boca um esgar. Dá-me vontade de te apertar com toda a força que os meus músculos consigam, de te ter sempre perto de mim, de te proteger dessa decisão que só pode ser tua, e que tu engoles, sabendo que não a queres tomar. Gostava de a tomar por ti, de transformar tudo por ti, de te oferecer de novo o brilho, e as cores, e tudo o resto que era só teu.
E sempre que te vejo avançar a pés juntos, o meu peito volta a fechar-se pequenino, apertadinho nessa dor medrosa de te ver tropeçar. Tu sabes, e eu sei. Ambas sabemos.
Ambas olhamos para ti e vemos um coração de mulher num corpo de menina. Uma preocupação de adulta, numa felicidade de criança. Uma razão matura, numa ânsia de infantilidade, de sentimentos extremos, de fulgores e coisas que não fazem sentido algum, mas que te deixam certa de que tens tudo.
Não estás bem, e não estás mal…apenas estás. Estás e esperas pelo que te vai fazer estar a seguir… Como na ânsia de que a magia chegue numa noite qualquer, e te torne de novo a completa menina.
E como tu me dizes, estás a meio. Não és completamente menina, e os desejos de mulher ainda não te atingiram de fronte, feito chapada.
E tu és diferente. És diferente na medida em que sabes não querer ser mulher, mas menina, porque sabes também que sendo menina consegues ser igualmente mulher.
E é isso que te deixa a meio. É essa coisa que te empurra mas que tu travas com os pés, que trancas com toda a tua força e que depois deixa de fazer força contigo, e te deixa longe de um ponto e longe do outro.
E é por isso que me dóis, que o meu peito de fecha cada vez que te vê avançar a pés juntos…
Porque na tua indecisão, podes estar ainda menos certa do que na tua decisão. E tu pedes ao tempo que pare para que penses sem seres impulsionada. Mas ele não pára pequena, ele não pára.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Quanto pensas tu em tudo isto?





Quanto pensas tu, em isto tudo? Quanto pensamos nós, no mundo em que vivemos? Será que quando defendemos, quando gritamos e barafustamos acerca do que está mal estamos a ajudar? Não não estamos. Estamos apenas a querer parecer bem, a querer parecer preocupados.
Ninguém já se preocupa com o que está mal no nosso mundo, e nem vale a pena negar, porque todos nós fazemos actos simples sem pensar que se não os fizessemos podiamos salvar vidas, animais e espaços. Podiamos salvar muito do que pomos em risco, dia após dia. Podiamos salvar o nosso futuro, a garantia de que a geração vindoura vai conseguir ter o necessário para a sua subsistência. Mas não vai.
Nessa altura não vai existir um ar puro onde eles consigam respirar de forma saudável, e não vão existir lagos, e florestas, e parques cheios de árvores, plantas e calma...porque metade de todas as florestas que agora temos vão desaparecer, e vai ficar deserto em seu lugar.
Nessa altura não vão existir animais, nada seguirá o seu curso normal. Já nada segue o seu curso normal.
Somos materialistas e egoístas. Procuramos a facilidade e não nos contentamos com pouco. Destruímos, destruímos e destruímos cada vez mais por caprichos, por meros desejos, porque queremos contruir um hotel aqui, porque um móvel de madeira tropical ia ficar bem na nossa sala, porque o marfim é muito valioso, e vai-me tornar alguém rico, alguém de sucesso.
E agora, eu pergunto...Será assim tanto sucesso, conseguir algo 'roubando', destruindo e enganado? Servindo-se dos mais pequenos, dos mais frágeis? Isso não é sucesso algum.
Há muito que desaprendemos o quão bom é sair com a família, caminhar pelo campo, pescar aqui e ali. As cidades toldam agora a maioria dos nossos lugares de eleição. Máquinas e mais máquinas que poluem o ar, que destroem a camada do ozono que nos protege, que nos fazem mal a nós mesmos. E ainda assim, continuamos a usar, e a abusar.
Tal como diz Charles Maurras, "Não existe uma ideia nascida do espírito humano, que não tenha feito correr sangue sob a terra."
Isto é, os problemas de que nos queixamos, os problemas que nos fazem comichão e nos retiram a paciência, foram e são criados por nós. Pelos nossos actos irresponsáveis.
Quando dizemos que as crianças percebem pouco de tudo isto, estamos muito enganados. Elas percebem com a simplicidade que lhes é característica, com o poder que acham possível, e que seria possível se o poder, o sucesso, o dinheiro e todas essas coisas mesquinhas não se pusessem como entraves. Elas sabem amar, e essa é a diferença. Elas amam o mais simples, e são felizes com o mais simples, e isso chega-lhes.
Por falar em crianças, quantas vezes pensamos nós naquelas que pagam na pele os nossos erros?
Quantas vezes, quando desperdiçamos comida, quando brincamos com água, quando deitamos fora umas calças, que podem nem ter sido usadas mais de uma vez mas que por não gostarmos não vestimos, pensamos nós que nesse precise momento há crianças da mesma idade que a nossa, a morrer á fome, á sede, e que não têm nada para vestir?
A diferença está que nós compramos três, quatro, cinco par de chinelos, cada um da sua cor, cada um de feitio diferente, uns com salto, outros sem, enquanto muitas outras crianças, fazem os seus próprios chinelos usando uma garrafa de água e um cordel. A diferença é que nós nunca sofremos isso na pele. Nunca soubemos o que é ter fome, mas ter uma fome genuína e não uma vontade de comer, e não ter o que pôr na boca para acalmar o estômago. Nós nunca soubemos o que é passar frio e dormir á chuva.
Temos todas essas coisas de sobra, e ainda assim queremos cada vez mais, e no nosso extremo egoísmo não partilhamos.
E vêm os governadores falar de bolsas, de dinheiro, de que é necessário criar um sistema para isto e para aquilo...quando há pessoas, crianças a morrer debaixo do seu nariz e nós, vimo-los parados.
Que interessa para o futuro do nosso mundo se o presidente dos E.U.A tem um porsche? Ou se o presidente de Portugal tem uma casa com fartura de divisões e mais divisões para arrumar todo o seu ouro? Nada. Importa rigorosamente nada.
Onde vai estar esse porsche quando se extinguir o petróleo e logo a gasolina o gasóleo e os seus derivados? De que lhe servirá? E de que servirá uma casa grande, quando õ sol aquecer demasiado o planeta e fizer morrer tudo o pouco que nele resta?
Que importa isso para as crianças que não têm nada? Que importa esse dinheiro todo que eles tanto se importam em guardar quando a cada 1 minuto morrem 3 crianças com fome, em países menos desenvolvidos?
Deveríamos todos pensar nisto. Não só pensar, mas preocupar-nos e fazer mais do que assistir ao ruir do mundo que vai pertencer aos nossos filhos.
Ninguém pode arranjar um solução mirabolante agora, mas também não é necessário piorar a situação. Há que lutar por não piorar o mundo, ainda que ele não possa ser melhorado.
Já não está na moda ser-se egoísta e lutar pelo seu próprio querer. Não está na moda ter tudo, e não dar nada aos outros. É tempo de começar a juntar forças. Tempo de começar a ser solidário, porque o mundo não é só de um, é de todos, e quando ajudamos os outros ajudamo-nos também a nós próprios.
Então, porque não parar de apenas 'dizer' o que é necessário ser feito?
É certo que nós jovens, não podemos decidir o que fazer do mundo, ainda. São vocês, adultos, pais, mães, governantes, presidentes, que o podem fazer. São vocês que "falam, falam, mas não fazem nada".
É certo que se uma pessoa fizer o bem, não vai mudar o mundo, mas pelo menos é menos um idiota a piorar a situação.
Está na hora de lutar por coisas de valor. Valor autêntico.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

27.





Não preciso da lua, do mundo, ou de todas as estrelas do céu. Preciso apenas da tua mão e do conforto do bater do teu coração.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Sistema.


Por vezes dá uma vontade tão grande de esquecer e correr para ti.

Esquecer que na minha segurança, vou estar sempre exposta a um perigo maior por consequêcia.

Mas por vezes dá uma vontade tão grande de deixar os olhos brilhar, e de abrir todas as portas meio-trancadas por uma razão muito pouco certa de estar certa, de não esperar sequer mais um segundo, de fingir que a minha paciência acabou e que só me importa o depois, depois. Dá essa liberdade no coração, que o deixa livre na exaltação, mas o prende na razão e depois é a garganta seca, os olhos a fechar, e um monte de cenas em câmara lenta teimando em passar. Estás tu e eu, e o resto é uma luz fraca. O resto não importa nada, Deixa de importar quando sinto sem sentir, os teus braços desarmados e o teu corpo surpreendido e estático.

Sei que me seguro a esse sentir, sei que o enceno, e o guardo e vou guardando, de modo a que cada palavra instintiva que me saia embargada de sentimentos, venha tingida dessa tua cor...Que eu sei lá qual é! Só sei que a vejo algures na luz fraca, e ela chega para embalar todo esse espaço em que só caibo eu, tu e um sentimento que conhecendo tão bem, penso ter aprendido a desconhecer.

Oh! Se ao menos eu pudesse correr para ti sempre que não consigo aguentar toda aquela emoção demasiado alarmante, quando se torna quase impossível de camuflar, de carregar no silêncio a ânsia de dançar debaixo de chuva num dia de Inverno-Verão.

Se ao menos pudesse embater no teu peito, quente e apaziguador da minha guerra interior, esse abrigo aliciante que me varre quaisquer tipos de medos e dúvidas...

E se ao menos tudo fosse igual ao meu abrigo proibido...Se tudo me conseguisse embebedar de não-questões, não-preocupações, não-corações quase a explodir pela espera aterrorizada da afirmação dos 'diz-que-disse', não-tremeliques insinuados a cada gesto por essa timidez estranha e reveladora, não-coisas complicadas, não-coisas enleadas com demasiadas pontas.

E posso descobrir nas tuas palavras escassas, que tens a noção de que me apetece quebrar todos os monólogos que se repetem dia após dia, e que me entram em ondas de pura boa exaltação (ignoro a percepção de que para mim são 'as melhores', no topo do ranking, porque irremediável e insolentemente eu obrigo-me a obrigar-me a obrigar-te a ficar numa das camadas mais superficiais da minha lista de heróis [sabes, até isso requer uma certa prática...Nestas batalhas travadas comigo mesma em que me não decido entre o mais fácil, o mais certo, o melhor para mim [o que será que é melhor para ti?], coisas essas que esbarram umas com as outras e esoalham-se e misturam-se e PUFF! Que complicação! ]Oh, e que vontade consequente de correr para ti e esquecer...)

Por vezes dá uma vontade tão grande de correr para ti, de embater no teu peito, de esbarrar no teu corpo, de ficar em ti.

De cerrar os punhos, fechar os olhos e sentir-te ali. De agarrar o colarinho do teu casaco e enterrar a cabeça no limite do teu pescoço...na cova do teu ombro, deixando-me afogar na emoção, na pulsação acelerada, nos batimentos cardíacos triplicados, quadriplicados, nas convulsões que se desenrolam entre a minha pele e os meus músculos, por baixo das unhas, na nuca arrepiada, e nas costas tensas que não conseguem inibir perante mim a vontade de sentir algo que as agarre, e as procure, que se segure nelas, enquanto o corpo restante se contorce num deleite desarmado.

Oh! Que perigo que és! Que salvação...

E que vontade, meu Deus, que vontade de to dizer, para que finalmente me vejas correr para ti...para que eu não tenha de me parar lembrando-me que nada é assim tão fácil.

Por vezes dá uma vontade tão grande de correr para ti, de embater em ti, de me misturar contigo...Por vezes dá uma vontade tão grande de adormecer em ti.

sábado, 14 de novembro de 2009

Não digas nada, por Fernando Pessoa :')






Não Digas Nada!





Não digas nada!

Nem mesmo a verdade

Há tanta suavidade em nada se dizer

E tudo se entender —

Tudo metade

De sentir e de ver...

Não digas nada
Deixa esquecer.






Talvez que amanhã

Em outra paisagem

Digas que foi vã

Toda essa viagem

Até onde quis

Ser quem me agrada...

Mas ali fui feliz

Não digas nada.

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"


'Há tanta suavidade em nada se dizer, e tudo se entender...'

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Criança.



Percebo melhor á medida que as horas passam, que os dias passam...que as noites, e as luas, e as alegria e tristezas vão e voltam...
Adormeço embalada pelas notas do piano que assegura a sua presença na minha mente...é como se estivesse estado sempre ao seu lado, todo este tempo...sempre naquela melodia lenta e demorada.
Sinto-me criança.
Sinto-me criança a sonhar, a voar, a deixar-se levar por um mundo fantasioso. E sou como as crianças...eu não vou parar de jogar, de brincar enquanto não cair. Enquanto não chorar e dos meus joelhos jorrar um sangue quente e vermelho, enlameado...
"- Depressa, temos de desinfectar isso, se não começas uma infecção que até..."
Que até...
Lembro-e destas palavras de quando era pequena. Lembro-me delas, não sei como ou porquê, mas elas ficaram. Talvez seja porque agora já ninguém diz:
"- Vamos, rápido, temos de desinfectar o coração, senão a infecção até se torna pior..."
É tão cruel ter um coração infectado... Ter um coração que precisa de algo que o torne mais completo, porque ele não se acha suficientemente cheio para si...Um coração que não é capaz de esperar sem temer, mas que treme e vacila sempre que palavras embatem contra a sua armadura.

Ela está tão cheia de mossas, que mais uma poderá fazê-la rachar, fazê-la cair, e deixar-me nua.

Mas eu continuo a ser essa criança que eu sei que sou. Continuo a ter plena consciencia de que me quero embebedar dessa felicidade, ainda que teime em tentar querer parar.

E eu tenho um coração infectado. Tenho um coração que se cansou de construir um muro enorme, para agora o ver cair, a pouco e pouco...Tenho um coração que agora corre livre, como se esquecesse por momentos que a qualquer altura pode faltar o chão...que a qualquer altura o seu peso pode puxá-lo para baixo com toda a força característica da lei da gravidade.

Percebo menos, á medida que as tua palavras vão tendo efeito em mim...á medida que as quero guardar, como se me pertencessem, e no entanto as receio ver por aí espalhadas...

Eu tenho medo. Só medo, apenas medo. Uma boa dose de medo. Uma boa fatia de medo. Medo a rodear-me como se fosse uma ilha perdida no meio de nada. Medo a entrar pelos meus poros e a pôr-me um esgar na face e meia dúzia de tremeliques nas minhas decisões.

Funcionas como veneno semi-doce, um veneno que não me mata por inteiro, e que por metade me faz renascer...

E eu sou uma criança. Uma criança que continua a beber desse frasco que deixaste por aqui, com uma cor bonita, um vidro brilhante e um cheiro deveras apetitoso...Porque as crianças são assim...deixam que tudo pareça mais alegre do que é, mais real do que é...E em tudo vêm sonhos, e emcima de qualquer terreno constroem castelos.

Sei que vou deixar de perceber ainda mais do que já não percebo...Vou começar a correr porque não posso parar, porque já não me é permitido tempo para descansar...como se as leis deste sentimento adivinhassem que se parasse, me ia esquivar para trás...Ia fugir em direcção ao 'era uma vez...' e ficava por aí...Até que adormecesse.

E talvez caia mesmo. Talvez o chão desapareça mesmo debaixo dos meus pés como artes mágicas e as minhas asas não cresçam a tempo de me fazer pousar levemente. Talvez que magoe os joelhos e os enlameie com sangue á mistura...

E nessa altura, nessa mesma altura, onde vais estar tu, para me segurares, para fazeres com que eu sinta a outra metade que me falta preenchida?...


'Não tenhas medo, eu vou segurar-te...'



domingo, 8 de novembro de 2009

I'll be right here...




- Está tão escuro aqui, nesta esquina da vida. Parece que parei no Inverno, parece que as estações não vão passar mais...Tenho medo.


-Vem cá...Dá-me a tua mão, vais ver que o medo vai passar...E amanhã o sol vai raiar, mesmo por cima das nossas cabeças, um sol de Primavera, morno e esperançoso. Vais ver que este frio passa, que este medo passa. Dá-me apenas a tua mão.







*I'll be right here, were your angels fall. Right here, wherever you need me,

Right here, ready to walk with you, no matter how far, no matter

how pain it takes...Just, try to be happy. Just...let me help you boy.

Entre nós.

" (...) A certa altura, entre ti e mim havia uma multidão, vivíamos com aquela sinistra companhia, pousando os pés num soalho tão fino e transparente como uma camada de massa folhada. "
Eu tentei tanto não ser assim, aguentei tanto todas essas coisas que no final elas libertaram-se por si mesmas...vomitadas, em jorros pestilentos de coisas duras e amargas.
Fechei tanto em mim as palavras mais aguçadas, que todo esse tempo elas foram limadas, e tornadas pontiagudas...tão pontiagudas quanto punhais...E quando saíram, feriram-te. Rasparam-te na pele e deixaram um ardor incomodativo, que não passou...É por isso que não gostas que elas sejam dirigidas a ti...mas gostas das dirigir aos outros...
Porque elas funcionam como alcoól...faz bem, mas arde, dói...Cura, mas provoca lágrimas...
São as verdades...que tu tentas ignorar a todo o custo, que já não queres ouvir, porque são passado...e que não percebes, não consegues perceber...deixaram tanto no meu presente.
Agora, os teus gritos são como o som do roçagar das árvores...passa-me despercebido.
Agora, as tuas lágrimas são como a chuva a cair...frias, negras...vazias.
Agora, o teu peito é duro e rochoso, e não faz qualquer sentido para mim.
Não fazes qualquer sentido para mim. Eu não te consigo encontrar, nem faço ideia de onde te perdi.
E se me perguntarem se gosto de ti, o que sinto por ti...eu não sei. Eu quero dizer coisas horríveis, mas não sei se elas continuam a sair para te magoar, para te fazer sentir aquilo que já senti, aquilo que eu combati e que me tornou forte...Ou se para te mostrar que tu continuas fraca. Continuas fraca e as tuas fraquezas são relfexionadas para mim...eu sinto-as todas, como uma mão que me empurra, como um olhar que não me vê como realmente sou...como um coração que não sabe amar aquilo que de bom eu posso ser, mas consegue ver e dar um valor obsceno a tudo aquilo onde erro...
Tenho a certeza que é isso que nos distância. Que nos afasta do lugar de onde nunca deviamos ter saído...mas possas...Eu esperei tanto tempo por ti...
Eu esperei tanto tempo que voltasses a olhar para mim...

sexta-feira, 6 de novembro de 2009


[Imagem por ehsvepsfini.]






"- Não perguntes porquê. Não te ponhas a pensar no sentido das coisas. O significado pouco ou nada importa. Se começares a pensar nisso, os teus pés ficam bloqueados. (...)Por isso, nunca deixes de mover os pés.Continua sempre a dançar, dê lá por onde der. Mesmo que te pareça uma perfeita estupidez.Continua sempre a fazer os passos, um após o outro.E tudo o que estava endurecido e bloqueado, aos poucos começará a perder a rigidez. Para certas coisas ainda não é demasiado tarde. Utiliza todos os meios ao teu alcance.Dá o teu melhor.Não há que ter medo. Bem sei que estás cansado. Cansado e com medo. Acontece aos melhores, não sei se estás a ver? Toda a gente passa por isso, por esses momentos em que tudo parece perdido. Agora vê lá, não deixes que os teus pés fiquem parados."




Haruki Murakami in Dança, Dança, Dança.










" Atira-te! Não achas que já é tempo de te atirares?..."


quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Em quem pensas tu antes de adormecer?


“ Em quem pensas tu antes de adormecer?
A quem pedes em silêncio que fique, que aprenda a adivinhar o teu olhar, que te siga os movimentos ainda que não saibas que o faz?
Quem é essa pessoa que te revolve, e te confunde numa maré violenta de perguntas e respostas meio formuladas, de acontecimentos e factores que tentas adivinhar, entre o medo de cair e a euforia de te darem corda ao mecanismo das asas? “

Calo-me. Cala-se a minha voz da mesma maneira obrigada que o imponho ao pensamento quando o quero no estrato mais subconsciente e ele, resiste por ficar a pairar como ideia principal.
Calo-me porque as minhas palavras podem fazer ricochete e acertar-me em cheio nas costas, como duas palmas de mão que me empurram e impulsionam, embatendo no meu sentimento meio distraído (meio, porque sei que ele lá está…só o ignoro, por vezes, quando possível)…
E ele pode não se segurar, nessa certeza que ainda não tem e cair em queda livre, sem sequer saber o que o espera lá em baixo…do precipício.
Não gosto de me desaperceber que o tenho em mim. Que por vezes o carrego no peito, de esperança em riste, e muitas outras, o levo às costas, um peso morto, mais vivo de medo que morto de impaciência. Que o levo escondido.
Não gosto de fingir que me esqueço, porque depois quando me lembrar consciente de que o faço, já não sei onde estão os meus pés. Muitas vezes tenho um em cima, ainda em terra firme, e o outro quase a descambar pelas encostas a baixo…E é isso que me mete medo, que eu não possa gritar, não possa decidir o que fazer…se cair, se voltar atrás e ficar quieta na plenitude do cima da montanha. E se ficar assim, nesse meio, nesse aqui, ali, sei que não vou pensar…Sei que vai sair da minha boca como se fosse mais urgente dizê-lo que respirar, apenas para não ficar no impasse, não ficar presa por uma meia dúzia de força insustentável com o passar do tempo e numa deliberação com prazo de expiração…
Por isso eu não me debruço demasiado sobre a imensidão escura…Não me questiono demasiado para não me tentar…Não me sento…Não olho para baixo…Não vá escorregar e cair…Não me vá eu deixar fugir antes de ser tempo de o fazer. E é o tempo. Sempre o tempo…o tempo e tudo o que ele traz atrás, anexado a si, como as folhas necessárias para realizar um trabalho de grupo. Traz resmas e resmas de folhas…resmas de folhas com indicações…com escolhas múltiplas, onde tenho medo de errar o lugar do x. Onde se errar, a pontuação não desce, mas eu desço…
O tempo, que não nos torna simples o amadurecer de um sentimento, que nos deixa sempre entre o ir e o ficar, entre o arriscar, ou o esperar, porque se esperares talvez possas vir a arriscar, e se arriscares possas vir a perder, mas e se não arriscares e perderes? Ficas convicta que seria diferente se tivesses arriscado.
Mas para mim…é cedo. Ainda tem de ser cedo, para que não o façamos ser tarde de mais…


“ Em quem pensas tu antes de adormecer? O que pensas ao adormecer? Relês todas as frases, bebes todas as palavras mais uma vez, só para que fiques mais segura…Fazes de conta que elas têm o mesmo sabor que quando ditas, para que não venhas a precisar de mais…Para que não precises de ficar na espera. Porque querendo ficar, dizes que não o queres. É uma forma tola de tentar convenceres-te de que ele ainda não te atingiu por completo. Ainda não te cativou, ainda não fez os teus olhos brilharem. Mas na verdade tens a plena noção que no escuro, eles parecem faróis na intensidade máxima. Já to disseram e já o ouviste. Não param de o repetir, e tu não paras de querer ouvir outra e outra vez, e não consegues parar de sentir um poucachinho mais de esperança ao ouvi-lo…no fundo é por isso que queres que te digam que agora os sorrisos são tolos, e os toques pequenos e suaves, para que te façam tremer e para que não te consigas ainda habituar…”

É tão simples dizer e saber que quero que por vezes começo até a perguntar se quero mesmo, se é assim tão simples, tão cheio de tudo isto, estas emoções todas a que já me não estava afeita. Parece ser sempre demasiado…para que o seja mesmo. Estou sempre á espera de ver surgir algo que me diga não de forma clara e sucinta, para que deixe de andar nesta roda-viva e saiba que é igual aos outros.
Mas na verdade, se continuar a ignorar que não é, talvez nem eu mesma consiga ser suficientemente feliz que justifique o facto de não ter lutado pela felicidade, e tê-la deixado fugir de debaixo dos meus pés…
As palavras nunca me chegam. Não me saciam, não extinguem a vontade de voltar a ouvir tudo de novo, repetido. Seguro-me aí…com o medo ansioso de me faltar esse apoio num ápice…enquanto me distraio um bocadinho.
Não as vou dizer. Não as posso dizer ainda. Agora, que ainda não sei quais as que me dirias, para além de tudo o que é dito. Para além de todas as frases com sentimentos camuflados, que percebemos, mas que fingimos não perceber, na expectativa que um abra o jogo…
Que ponha as cartas na mesa, sem impedimentos… Mas ninguém o faz, porque nenhum de nós está certo ou seguro de saber com todas as convicções que não vai ser injustiçado por um sentimento de menor valor que o esperado…
Por enquanto nada chega para que possa sair por aí dizendo que consegui voltar a sentir aquele tremor característico…aquele que quando sentes, te faz ouvir uma vozinha na cabeça que diz sempre o mesmo…: “Pronto…Já está…! Já foste…”
Já está…a mesma expressão de uma tarefa acabada. Eu concluí apenas a primeira. A de saber que sim, que penso em ti antes de adormecer. A de acreditar e aceitar que sim, porque…sim. Porque enquanto for assim, enquanto não
chegar…vai parecer que há sempre mais…mais para lá de tudo o resto.

“Em quem pensas antes de adormecer?”

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Beleza (?)

Falam-me de beleza. Tanta gente me fala de beleza e eu penso ‘Hum…Mas o que estão eles a dizer? ‘, e se não me falam eu vejo pragas da palavra ‘Beleza’ em descrição de fotografias , palavras ‘desbandalhadas’ que no final fogem quilómetros ao que a palavra significa.
Beleza. Ah! Eles chamam beleza a um cabelo comprido, brilhante igual a mais de não sei quantos…AH! Eles chamam beleza a um sorriso mal oferecido, e a uma boca cuja não cansa de repetir coisas rudes, que não avançam com o mundo, ou seja…que o fazem retroceder…
Que estranho…eu não conheço a beleza por algo vazio, por uma maré cheia de coisas que se podem agarrar, usar e depois deitar fora. Não conheço a beleza por uma blusa que até tem purpurina e brilha á luz do sol…um brilho falsificado…
Não a conheço por isso, e não a quero conhecer assim. Ela não é assim.
Beleza não é chegar, não é abanar o corpo, e dizer ‘Olhem para mim’; não é dizer ‘és tão linda’, numa mera fotografia…Não é nada dessas coisas que nada têm de verdade a não ser um pouco de conveniência e aspiração social.
Dizeres a alguém que é bonita, impõe que a admires, e tu não podes admirar algo que desconhecesses. Não podes admirar um coração se não sabes do que é revestido, e não podes admirar a forma como a voz sai calma, se nunca a ouviste. Não podes sequer rejubilar com os actos dessa pessoa pois tu não os conheces só de os olhares. Não os sabes de cor, como se ela fosse importante para ti, como se a conseguisses adivinhar .
A beleza estende-se para além de tudo isso. A beleza chega até ao fundo do coração, tem de o analisar pouco a pouco, tem de ver a verdade, passar pelo respeito e cumprimentar a consciência. A beleza tem de ser bela. Tem de ser agradável de todos os prismas, tem de ter todas as faces limpas e seguras, tem de ser algo em que te possas segurar e dizer que não vais cair, que não vais deslizar.
Irrita-me abrir a página da Internet e ver hi5’s de pessoas que não passam de meros ignorantes, convencidos que utilizam frases poéticas como se realmente soubessem o significado prático e sentimental delas. Que falam de respeito e de amor, em perfis cheios de palavras vaidosas, que apenas lhe escondem os actos contrários. Elas não servem para isso, tal como a beleza não serve para esconder um coração fracassado…E digo coração fracassado porque ele não consegue amar. Não consegue ir para além daquela espécie de ‘gostar’ que tem mais de aspiração que outra coisa…Que tem mais de ‘ Deixa-me lá dizer uma palavra simpática para ver se subo mais um bocadinho…’
O que é isso gente?
Não são palavras. Não é beleza. Acaba por não ser nada. Acaba por ser algo mal utilizado, uma verdade injustiçada por tantas máscaras, tantas tentativas de esconder um interior medroso e frustrado…
É preciso ser-se belo por dentro. Ser-se belo para além da aparência bela que dão as primeiras quatro palavras trocadas. É preciso que a beleza se mantenha á medida que vais conhecendo alguém, ainda que nessa pessoa existam falhas…Mas falhas belas. Falhas que ela aceita como tal e até tenta melhorar…
A singularidade da personalidade leva a que a beleza se estenda á admiração. És admirado porque a tua personalidade é bela, e não porque a tua cara parece dar-te essa parte da beleza da singularidade da personalidade que não tens.
O sabor amargo de ver essas palavras espalhadas assim, como folhas das árvores pelo chão no Outono, por vezes, dá até vontade de parar o trânsito. De parar as pessoas, os colegas da escola, essas gentes vazias que engolem palavras falsas, com sentimentos falsos, apenas para encherem um ego que não tem. É tudo falso, tudo vazio, tudo folhas de papel amarrotadas e em branco…
E depois de tentar fazer com que tudo isto seja percebido, olho para as suas faces e eles riem-se…Riem-se como se uma piada tivesse acabado de ser dita…
Na verdade, a beleza vê-se em coisas pequenas, coisas simples, que sendo tão descomplexadas poucos conseguem perceber.
Esse é o problema...Estamos tão rodeados de coisas que nos chamam a atenção com letreiros luminosos em Las Vegas, que tudo isso nos deixa cegos...Cegos numa aparência alegre e vazia que ignoramos.

sábado, 31 de outubro de 2009

Não era suposto.



Não era suposto doer assim. Não era suposto que o coração não se calasse, e chamasse tanto por ti.
Não era suposto ter caído, não agora que tudo estava tão bem para mim.
E não era suposto que precisasse de te sentir como uma luzinha dentro de mim, que torna o ar mais agradável ao nariz, e mais doce á pele.
Não era suposto que eu te esperasse sem sequer ter a certeza se vens, nem que cada vez que não estás perto eu não ter a certeza se ainda me ouves suscitasse tamanha inquietude em todas as moléculas que me formam.
E nada disto era suposto acontecer, mas acontece e eu não tenho força para dizer: Basta!
Nada disto devia acontecer, mas eu ainda não consigo argumentar razões contra a minha própria vontade para a convencer a desistir, de algo que ela talvez nem faz, ou que faz sem notar sequer o quanto pode vir a ser perigoso.
O quanto pode vir a ser perigoso deixar entrar todo esse aroma a Primavera a que eu renunciei.
E não…Não era suposto que o meu estômago revolteasse, e a minha garganta secasse em segundos, e as palavras saíssem entre cortadas e sem fazer qualquer sentido lógico, ou que no peito se desse um big bang sem mundo…apenas aquele enfeito de todas as partículas comprimidas e de repente ‘BUMM’, e até parece que tudo está perfeito.
Não era suposto que te tornasses uma razão ou um motivo, devias ser apenas mais um ‘ele’, mais um ‘tu’, mais um ‘sim conheço de vista…’ ou ‘sim, até me fala, mas não me dou muito.’
E como é que raios isto foi acontecer? Como é que raios conseguiste entrar onde mais ninguém até agora conseguiu?



‘ E é enquanto o tempo passa á tua volta, que começo de novo aquele ciclo de convencimentos e desistências nulas, aquelas decisões que depois não serviram para nada senão para te cansarem, porque as tomas com todas as tuas forças, mas depois, cedes, como palha seca e fraca… Que vêm de novo as sensações de andares em montanhas russas enormes e cheias de picos, que ou te levam demasiado acima, ou te deixam demasiado em baixo…E os desejos nascem e renascem e encena-los e voltas a encená-los, e nunca passam de uma imagem qualquer que por acaso até tiraste de algum filme onde o final é ‘ E viveram felizes para sempre’…
E tu sabes lá como ou porquê, e é isso o que mais te remói, o que mais gira dentro de ti, como a intersecção de duas correntes marítimas…Um buraco fundo, que por mais que encham e voltem a encher, nunca deixa de ter sede, nunca deixa de estar vazio. E tu ignora-lo, mas sabe-lo tão bem…’



Não era suposto doer assim.


Não era suposto que o coração não se calasse e chamasse tanto por ti.
(Imagem por Jokerspoem.)

Por agora...


Fechar os olhos e respirar fundo.
Um respirar fundo tão diferente dos que tenho respirado. Aquele respirar fundo que achamos, se pararmos de procurar. Aquele respirar fundo mais suspiro, que em finais, pensamos nunca mais voltar a conseguir soltar.
Por vezes… percebo-te tão bem. Percebo-te ainda que a dúvida me inunde a vontade repentina e usual de te pegar pela mão, e sentir que ela treme…Sentir a tua mão na minha, pouco certa de que deve estar, intermitente…a tentar sair, mas cujo desejo é ficar. Ficar ali, segura na minha, ancorada no meu sorriso, que esperas que não seja igual a todos os outros…mas que seja o sorriso.
É então que fecho os olhos. Fecho-os lentamente, com a calma e serenidade que essa certeza, ainda incerta, me convêm… Essa certeza que me sobe demasiado, que me faz leve, demasiado leve, levíssima demais para alguém tão cheio…Um dente-de-leão adormecido numa rajada de vento.
Tentar fugir de ti, agora, é tentar fugir de mim…Eu não posso sair de mim, não posso abandonar-me…Posso apenas esperar que tu o faças. Mas talvez que nem fiques completamente. Ou talvez que fiques imenso sem sequer teres noção que o fazes.
Achei que não conseguia fechar os olhos e respirar fundo com toda essa suavidade que o sentimento impõe aos actos, aos pensamentos, às palavras…
Vi-me ainda presa, ainda muito apegada á chave que me transpõe e me ultrapassa, mesmo sendo minha, e que eu segurei todo este tempo, sem saber que deveras o fazia…Ouro transparente nas mãos de uma criança pobre.
Fecho os olhos. Fecho os olhos sem ter medo de cair, de me atirar de encontro a ti, porque na minha teia de razões e de adivinhação, de actos e emoções, ainda está presente a inicial inocência de que te posso guardar em mim sem que o tenha de te dizer, e que ainda assim, tu vais estar lá para me segurar. Que queres correr e apanhar-me, e que isso não te magoa as pernas, e não te cansa o corpo.
Fecho os olhos. Fecho os olhos sem ter medo que milhões de ilusões e mentiras se agitem sedentas ao meu redor. Por agora está tudo bem, e por agora não preciso de mais nada senão desta calma, deste arrepio frenético que não pára de me fazer sorrir, desta força que constantemente me puxa para outro qualquer lugar…tão tão longe daqui…tão tão melhor que aqui.
Para outro qualquer lugar onde o sol não brilha, mas também não chove. Onde o céu não é azul suficiente para dizer que seja, e onde o cinzento não reina. Onde o ar não me sufoca, e não me atordoa, cheio de cheiros doces…mas que me entra pelos pulmões fresco e simples.
Para outro qualquer lugar.
E agora até parece que tudo isso te move, mas não te mexe. Move-te para lá de quaisquer barreiras, e nem sequer mexes um pé.
Há quem olhe para mim e diga que desta vez consegui. Que agora é a sério, o mais a sério de todos os a sérios, porque desta vez eu recuso-me a dizer que o é. Porque desta vez eu não quero que tu notes que eu troco as palavras, e não largo as mãos…que mesmo não olhando, eu olho e dirijo toda a atenção.
Desta vez eu não quero que as ânsias me transformem em marés de inconsequência desvairada, que só pára quando embate. Não quero que o tempo tenha controlo de mim desta vez, se é que há esta vez.
E agora, agora até faz sentido para mim ter o coração distraído. Mantê-lo desocupado para que se prepare, mantê-lo adormecido, para que ele realmente acorde.
Por agora está tudo bem. Enquanto os meus pulmões estiverem embevecidos, o meu coração de novo em tons de vermelho sangue, e os meus olhos semi-fechados, semi-abertos, tudo fará sentido. Tudo estará bem.



quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Silêncio.


E na voz do silêncio podes ouvir tudo. Ouves tudo o que existe para ser dito.
Na voz do silêncio soa tudo. Tudo o que precisa de ser dito.
Não o temas. Não o queiras forçar a evaporar-se. Não instales em ti esses burburinhos que são um semi-barulho, que não te deixam ouvires-te, ou ouvir os outros.
Que te deixam meio zonzo e apagado, e te fazem andar na vida aos trambolhões…Que te fazem cair, e cair, mesmo antes de te levantares…
Ouve o silêncio. Pois é no silêncio que o coração fala.
É nele que precisas de confiar, tens de confiar. Procuras por razões, e palavras que te acalmem o respirar, e não queres perceber que não é esse o caminho.
Tu não precisas de mais barulho, estás cheio de barulho…a tua vida parece uma discoteca onde a música não pára de tocar…E tu perdeste no meio dela por não conseguires perceber onde está a porta de saída, e a de nova entrada. Andas por ali enrolado, como uma criança se enrola nas ondas, e ignoras que precisas do silêncio.
Talvez tenhas medo dele, talvez que te assuste essa serenidade toda, esse sentimento bom…Não sabes lidar com ele.
Mas ouve o silêncio…Vá lá…ouve-o.
Deixa que ele te fale, e depois tenho a certeza que perceberás que afinal, só tu tinhas as respostas e as palavras que tanto procuravas.
Que tinhas em ti, muito mais que esses sentimentos de cansaço e desilusão…esses sentimentos de marca usada, e de coisa repetida. Coisa sem gosto, sem brilho…


Escuta a voz do silêncio. Escuta-te. Estás a precisar de ti, mais do que qualquer outra pessoa.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Fechei-te.

Estás tao fechado, tão fechado, que eu deixei de te saber abrir.
Jurei proteger-te e guadar-te, para que niguém te pudesse ferir.
E achei que eu bastava. E achei que bastava tudo o que já tinhas e que em ti já estava.
Por mais que eu tente, eu não sou capaz. E na verdade, acho que ainda não tentei o suficiente, e as minhas pernas já tremem, e a minha garganta já tem em toda a sua largura um medo a toldar a passagem do ar.
De repente, é como ter tudo na mão, mas não saber o que fazer com esse tudo, porque não sei onde me deixei, onde te deixei, e onde terei esquecido a capacidade de amar, de amar com toda a força, toda a vontade, e toda a disposição.
Será que o amor se desaprende? Será que de um momento para o outro o teu coração ganha amnésia, fica com alzheimer, ou foste tu que perdeste a capacidade de ver nos outros o amor?
Estou demasiado preenchida. É assim que me sinto, e um pequeno deslize, pode destruir o castelo que eu tenho tentado construir este tempo todo...peça a peça. Detalhe a detalhe. Sem deixar que ninguém entrasse para que não voltasse a derrubar tudo o que com tanto esforço eu fui amontoando em ordem.
Descobri que sozinha não sou capaz de construir qualquer tipo de castelo...nem um quarto, quanto mais um castelo. Sozinha, torna-se mais árduo carregar a experiência de vida de um lado para o outro.
Sinto-me como um barco á deriva na tempestade...Como uma bússola a quem roubaram os pontos cardeais...Por vezes sinto-me tanta coisa, que deixo de saber o que sinto, ou o que sou.
Eu fechei-o. E agora não faço ideia de como o abrir.
Desaprendi o amor, ou desaprendi de acreditar que ainda há amores que te seguram, mais do que te aguentam?

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Fala Comigo.Fala para Mim.


Fecho os olhos. As luzes intermitentes, confusas, enjoativas desaparecem.
Tapo os ouvidos. Acabam-se as gargalhadas, os chamamentos, os sons indiscretos, os indefiníveis, os meio ouvidos, os gritos.
Cerro os lábios. Vão-se as palavras meias, os verbos vãos, as intenções neutras desnudadas, os impulsos, as facas afiadas e transparentes, os aconchegos cheios.
Respiro fundo. E o ciclo se inicia novamente. Com a mesma pressa, e a mesma lentidão. Da mesma forma, do mesmo lugar. Chega a todo o lado e volta para trás.

“ Atira-te. Atira-te depressa. Não penses, nem percas tempo a respirar. Que o teu próximo esforço seja lançares-te para a frente como se lança um sonho ao ar. Com a mesma disposição triunfante até que voltes a tocar o chão. Com a mesma sensação de que vais alcançar o sol, de que vais deitar-te no seio da Lua. Atira-te vá! Porque esperas? Por quem esperas? O tempo acaba-se, e tu só consegues pensar e pensar…e envelhecer, e perder a graça, e ficar sem cor, sem brilho, sem vontade. Vá, está na hora. Atira-te. “


Atira-te. Diz ela. Ou ele. Atira-te. Mas para onde me atiro eu? Onde vou eu cair?
Não tenho lugar onde queira certamente ficar, há alguns que nem conheço, e dos quais depressa me vou cansar. Dos que tenho, todos me fartam, todos me enchem, e enchendo-me deixam-me mais vazia que uma caixa de cartão canelado.
Atira-te. Não posso. Não posso. Não posso. Não consigo sequer olhar para baixo desta varanda no 100º andar. Não consigo sequer olhar as vidas lá em baixo, sem ficar enjoada, sem a cabeça rodar, e as pernas falharem. Não quero. Dói muito. Não consigo sequer respirar de alívio por começar, mas a minha respiração prende-se ofegante ao factor acabar. A palavra mete-me doente só de juntar as suas sílabas e ver na minha mente a imagem distorcida que dela me impuseram.
O tempo acaba-se. Mas eu não pedi que ele passasse. Ele devia estar quieto agora. Devia estar ali, mesmo á beira do rio onde a cascata que me enrola e me faz engolir esta água onde os sentimentos perdidos puxam e esticam, e encolhem, e amassam como se fosses massa de pão, vai cair, e sossegar. Vai cair e ficar inanimada. Era suposto ele estar lá, ele ter esperado por mim, porque ele sabia que me estavam a puxar para trás, e me estavam a cansar as pernas e os braços e todos os minuciosos músculos do meu corpo com que eu tentava chegar a si. Ele sabia que eu queria chegar a si, não pode ter ido embora.
Na verdade, quando as minhas costas embaterem nas rochas polidas pelas águas onde os sentimentos harmoniosos te fazem vaguear entre o sono, e o adormecer, o tempo já não vai estar lá. Ele nunca esperou por mim, e eu sabia que devia ter sido eu a chegar mais cedo. Devia saber mais cedo que eu precisava dessa água de sentimentos plenos. Devia ter deduzido mais cedo que todos os outros, os outros que descem pela cascata, rodeados de uma brusquidão silenciosa, como os filmes antigos onde a imagem demonstra tudo, me iam fazer chegar atrasada.
Vá, está na hora. Atira-te.
Tu falas, falas sempre, meia volta e voltas a estar aqui. Não sei quem és. Não sei de onde vens. Mas dá-me a sensação leve de que te conheço tão bem quanto a mim mesma.
A tua voz, que eu nem sei se é voz, ressoa sempre algures…Acho que é só para mim. Parece que só eu a oiço…Mas eu tenho os ouvidos tapados. Explica-me. Sou humana e não entendo. Sou limitada e continuo a achar que não consigo. Não acho. Eu não consigo. Não tenho força suficiente para acreditar em ti.


“ Tu conheces-me tão bem, e tu sabes que sim. Sabes que eu estou sempre perto de ti, em cada acto que fazes, em cada vida que metes o pé, o braço, a mão ou até o corpo todo. Eu ponho-te sempre duas fileiras á frente, divididas, uma de cada lado. E tu percebes sem sequer ser necessário fechares os olhos, tapares os ouvidos ou cerrar os lábios. Respirar fundo, lá respiras. Deixo que o faças, parece deixar-te mais decidida em apenas um sopro.
Ainda assim, em todas essas vezes que vês um número estimado de coisas do teu lado direito e do teu lado esquerdo, tu sabes sempre impor-lhes uma cor, um cheiro e por final um sabor. Tu sentes logo quais os amargos e quais os doces. Já te enganaste. Já me culpaste. Mas ainda assim viste o quão mau sabor deveria algo ter, para que o doce te parecesse o mais doce de todos. Acho que aí deixas de me ouvir. Acho que aí, torna-se fácil para ti voltar a encher, gota por gota o lago que puseste por baixo da tua alma insegura e reservada. Por vezes acho que devias aumentar a capacidade dele.
Atira-te. Vai. Confia em mim, pois eu sei, que tu sabes que és mais capaz do que alguma vez imaginaste que serias. “


Continuas a ecoar. Dizes-me para avançar. Mas avanço para onde? Não há qualquer trilho de miolos formado no chão e as árvores são demasiado altas para que eu consiga ver onde está a montanha. Por vezes, é como se já estivesse a meio da escalada. Outras, nem ainda a comecei.
É como se o globo estivesse suspenso como espanta espíritos algures, e alguém o empurrasse com o dedo. Apenas pela piada de o ver girar, e girar, até este se entorpecer. E eu caio, eu ganho ânsias e as náuseas trespassam-me o peito e a mente. Deixo de pensar. Deixo de querer. Sento-me. Paro. E fico a olhar para o nada, que parecesse nesse momento bem mais interessante que o que me possas mostrar. Não caio só da montanha. Caio também do globo.
Depois…bem, depois parece tudo mais difícil. Tudo o que fazia sentido, deixa cada vez mais de o fazer. Tudo o que eu queria muda repentinamente, mas ainda assim, eu não consigo ficar de um só lado. Tu não me dizes nada. Ficas calado. Ou calada. Pões-te com palavras meio sábias, meio adivinhas. Credo! Eu não sou vidente. Pior que isso, eu não sou Einstein. Ainda assim, parece que adivinhas que eu consigo adivinhar tudo o que dizes, de uma forma não dita.
É por as tuas palavras alegóricas e metafóricas que vejo o meu limite expandir-se. Que eu vejo as minhas pernas ficarem do mesmo tamanho, mas no entanto crescerem. E, lá por entre os cumes dos pinheiros e de todas as outras grandes árvores que desconheço, que vejo, envolta em alguma neblina, a minha montanha. Não está bem clara. Não está denotada. Mas eu ponho-me de novo a caminho, como se o sol incidisse sobre ela com todo o seu fulgor.

“ Então tu és mais minha, do que eu sou tua. Porque sou eu quem te rege, quem te move os pés e nem tenho de lhes tocar. Então, eu percebo-te melhor do que me percebes. Tu nem me percebes, não me adivinhas. Mas eu a ti, como dizes, consigo dizer-te tudo, sem sequer te dizer nada. Continuo aqui, talvez, ou tendo mesmo a certeza porque eu preciso de ter alguém que interrogar…e porque tu precisas de te sentir interrogada. Rodeada de questões. Eu preciso de parar alguém. E tu precisas que te parem. Eu preciso de te encher, e de te esvaziar. E tu precisas de sempre que te sentes cheia, te sentires vazia, para que voltes a conseguir ver o quão bom é estar cheia. “

(Continua…)

domingo, 18 de outubro de 2009

Arrum o teu coação.



Arruma o teu coração. Põe tudo no lugar certo: apanha a esperança do chão, ordena os medos na estante, pôe os preconceitos no destruidor fica vê-los desaparcer. Limpa do tapete as palavras amargas, e limpa os quadros das doces. Atira janela fora as fotografias das verdades dolorosas, mas guarda os negativos como prova de um crime. Desata os sonhos da cerca do quintal e deixa-os subirem e subirem...até ao sol.

Arruma o teu coração, torna-o simples, torna-o leve, torna-o limpo.

Torna-o espaçoso.

Depois, como se nunca deixasses de ser criança, como se nunca se tornasse para ti difícil acreditar, como se as asas ainda existissem, e os olhos ainda brilhassem, como se ainda esperasses que algum príncipe te viesse buscar, fecha os olhos, pede um desejo.


Enquanto acreditares, nada é impossível, enquanto tiveres saudades, não esqueces, enquanto precisares, não deixas de amar...enquanto puderes sorrir, não é tarde de mais.

sábado, 17 de outubro de 2009

Meu anjo.


Não sei realmente se te conheço. Não sei se te posso conhecer ao ponto de me conhecer a mim mesma em tino fundo eu não me conheço. Não me conheço, e só junto de ti tenho a breve ilusão de que sou alguma coisa a mais que aquilo que sou. Que os outros acham que sou. Que o que eles dizem, o que eles elogiam ou criticam…o que eles ofendem, atacam ou defendem.
Posso até nem ser nada, mas no meio desse nada, existe algum tudo…Algum tudo que revolteia no ar, e suspende todos os suspiros e toda a aragem fresca da madrugada quando ficas em mim, mais do que devias ficar. Quando te agarras a mim com a força de mil homens, e mil criaturas do reino da magia. Quando os teus olhos não sabem fixar-se noutro lugar senão no meu coração que fica tão desnudado no calor do teu sorriso. Quando a tua mão não só me segura, mas me puxa persistentemente para que me levante, para que não me canse já, para que não esteja ainda cansada. Porque ainda tenho muito que andar…Ainda tenho que me encontrar comigo mesma daqui a 25 esquinas de dor, e mais umas poucas de escuridão…passando por certas avenidas claras, com sol ofuscante, onde a felicidade me dá encontrões, e me passa rasteiras para eu ficar um pouco ali. Para não ir logo embora.
Falei-te tanto dessas ruas…Talvez porque queria que as andasses comigo, e ainda que não me encontrasse em mim, ou em ti, havia sempre aquele pedacinho de ‘algum tudo’ que me confortava e até me fazia pensar que era capaz de novo…
Não sei se realmente te conheço…Mas não consigo temer-te. Não consigo virar o meu sorriso, e oferecer-te umas costas curvadas que gritam desilusão, não consigo correr de ti. Na verdade, eu esforço-me tanto á toa para não correr para ti. Cerro tanto os dentes, imobilizo tanto os meus músculos, que eles sobressaem por a pele, esticada, impregnada de esgares. Porque eu quero, mas não quero correr para ti. Porque eu quero…mas não tendo medo de ti, causa-me medo tudo isso que me faz correr em direcção ao teu peito…Essa vontade súbita e extrema de voltar a encostar a cabeça nele e deixar que as lágrimas que sufoquei antes, fluam agora livres como as chuvas de Dezembro. Esse desejo brusco de estares aqui, mais do que já estiveste, mais do que alguma vez possas estar. Essa…essa ânsia sem sentido, mas que dentro de mim faz o maior sentido que alguma outra frase, vocábulo, sentimento ou pensamento fizera.
Queria até chamar-te de anjo. Mas eu não sei se te conheço. Não sei se ao chamar-te anjo não falo apenas daquela susceptibilidade que tenho á tua presença…Talvez seja eu a única que te sinto, quando mesmo não estás…Que te respiro. Que te bebo. Que te ‘snifo’. Que me drogo de ti, me embebedo de ti, e faço do meu delírio, um facto, e falo dele com o brilho de todas as estrelas no meu olhar, com a expressão de uma louca estampado no rosto, aberto, feliz…Num acreditar tão inocente que pareço uma criança.
No fundo não me conheço. Não sei que parte de mim te acha possível, ou fácil. Que parte de mim te aceita e te tolera…E que parte de mim te adora e te ama. Se existe sequer uma parte de mim que o faz…No fundo não me conheço…Por isso posso dar-te uma desculpa. Por isso posso dizer-te que sou adulta, que sou criança…ou para falar a verdade, que não sou nada.
Que ainda não sou capaz de ser alguma coisa, porque me faltam motivos para ser, porque me faltam horas de sono onde eu seja capaz de descansar, onde eu possa deixar que a minha cabeça se ordene…Que as minhas ideias não sejam sempre e repetidamente subornadas pelo coração, e que por mais que tentem sair vitoriosas desse conflito de razões, acabem por se cansar e se submeterem. Elas na verdade querem cansar-se. Querem ficar por baixo do coração, querem ter uma boa desculpa para ele sair sempre triunfante. Porque assim, têm um motivo, ainda que nele não acredites, ainda que nem eu própria acredite e o personifique e o carregue dessas coisas que o parecem fazer mais credível. Para pudermos acreditar, e sorrir ao adormecer.
Meu anjo…Posso chamar-te meu anjo? Posso chamar-te anjo?...Ou chamo-te só meu?...Meu, meu qualquer coisa. Meu move sóis e luas. Meu quase tudo nada. Meu…anjo.
Não sei se posso conhecer tudo o que te rodeia e não me perder por lá. Não ficar meio indecisa, meio ‘vou não vou’…Porque eu realmente não conheço até que ponto me conheço. Não conheço até que circunstância eu vou continuar a chamar-te ‘Meu anjo’. Se depois de cresceres e perderes essa parte jovem que acordava, que eu abanava e sacudia em ti, que te fazia tão muito mas pouco parecido a mim, posso continuar a chamar-te anjo. Nem sei se agora o posso fazer. Se quando souberes que o faço, quando souberes que és tu essa qualquer maré de escolhas e gostos e ideais todos condensados em palavras simples e sorrisos descomplicados que me parece ter estado sempre á espera, que parece que está sempre atrás de mim, abraçado ao projecto de corpo de mulher que ostento…protegendo-me de mim própria, não vais deixar de estar desnitidamente em toda essa confusão que eu faço. Em toda essa confusão clarificante que me sussurra aos ouvidos, e me diz sempre que preciso de ti mais do que precisei, mais do que ainda vou precisar.
Precisar de me segurar em ti, ou precisar que te segures em mim…Precisar que precises de mim da mesma forma que eu preciso de precisar de ti. Para que não haja decrespância entre o meu olhar e o teu, entre o meu sorriso de ‘finalmente’ e o teu sorriso de ‘cheguei’. Para que eu me possa conhecer em ti, e para que tu te possas conhecer em mim…e para que sabermos o que somos. O que tu és, o que eu sou, ou o que sempre fomos, para além do ‘nada’ e do ‘algum tudo’…

Meu anjo. Não sei se realmente te conheço. Mas estás e eu esqueço-me que de repente posso cair das tuas asas de penugem calmante, mas confio demasiado em ti. Confio demasiado em ti para acreditar nos teus silêncios mal conseguidos, e na força com que seguras a tua mão de tocar a minha face.
E no fundo eu não me conheço. Mas perto de ti, é como se eu não precisasse sequer de me perguntar quem sou além de ser eu. Alimenta-me; completamente ser apenas a tua…qualquer coisa.