quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Em quem pensas tu antes de adormecer?


“ Em quem pensas tu antes de adormecer?
A quem pedes em silêncio que fique, que aprenda a adivinhar o teu olhar, que te siga os movimentos ainda que não saibas que o faz?
Quem é essa pessoa que te revolve, e te confunde numa maré violenta de perguntas e respostas meio formuladas, de acontecimentos e factores que tentas adivinhar, entre o medo de cair e a euforia de te darem corda ao mecanismo das asas? “

Calo-me. Cala-se a minha voz da mesma maneira obrigada que o imponho ao pensamento quando o quero no estrato mais subconsciente e ele, resiste por ficar a pairar como ideia principal.
Calo-me porque as minhas palavras podem fazer ricochete e acertar-me em cheio nas costas, como duas palmas de mão que me empurram e impulsionam, embatendo no meu sentimento meio distraído (meio, porque sei que ele lá está…só o ignoro, por vezes, quando possível)…
E ele pode não se segurar, nessa certeza que ainda não tem e cair em queda livre, sem sequer saber o que o espera lá em baixo…do precipício.
Não gosto de me desaperceber que o tenho em mim. Que por vezes o carrego no peito, de esperança em riste, e muitas outras, o levo às costas, um peso morto, mais vivo de medo que morto de impaciência. Que o levo escondido.
Não gosto de fingir que me esqueço, porque depois quando me lembrar consciente de que o faço, já não sei onde estão os meus pés. Muitas vezes tenho um em cima, ainda em terra firme, e o outro quase a descambar pelas encostas a baixo…E é isso que me mete medo, que eu não possa gritar, não possa decidir o que fazer…se cair, se voltar atrás e ficar quieta na plenitude do cima da montanha. E se ficar assim, nesse meio, nesse aqui, ali, sei que não vou pensar…Sei que vai sair da minha boca como se fosse mais urgente dizê-lo que respirar, apenas para não ficar no impasse, não ficar presa por uma meia dúzia de força insustentável com o passar do tempo e numa deliberação com prazo de expiração…
Por isso eu não me debruço demasiado sobre a imensidão escura…Não me questiono demasiado para não me tentar…Não me sento…Não olho para baixo…Não vá escorregar e cair…Não me vá eu deixar fugir antes de ser tempo de o fazer. E é o tempo. Sempre o tempo…o tempo e tudo o que ele traz atrás, anexado a si, como as folhas necessárias para realizar um trabalho de grupo. Traz resmas e resmas de folhas…resmas de folhas com indicações…com escolhas múltiplas, onde tenho medo de errar o lugar do x. Onde se errar, a pontuação não desce, mas eu desço…
O tempo, que não nos torna simples o amadurecer de um sentimento, que nos deixa sempre entre o ir e o ficar, entre o arriscar, ou o esperar, porque se esperares talvez possas vir a arriscar, e se arriscares possas vir a perder, mas e se não arriscares e perderes? Ficas convicta que seria diferente se tivesses arriscado.
Mas para mim…é cedo. Ainda tem de ser cedo, para que não o façamos ser tarde de mais…


“ Em quem pensas tu antes de adormecer? O que pensas ao adormecer? Relês todas as frases, bebes todas as palavras mais uma vez, só para que fiques mais segura…Fazes de conta que elas têm o mesmo sabor que quando ditas, para que não venhas a precisar de mais…Para que não precises de ficar na espera. Porque querendo ficar, dizes que não o queres. É uma forma tola de tentar convenceres-te de que ele ainda não te atingiu por completo. Ainda não te cativou, ainda não fez os teus olhos brilharem. Mas na verdade tens a plena noção que no escuro, eles parecem faróis na intensidade máxima. Já to disseram e já o ouviste. Não param de o repetir, e tu não paras de querer ouvir outra e outra vez, e não consegues parar de sentir um poucachinho mais de esperança ao ouvi-lo…no fundo é por isso que queres que te digam que agora os sorrisos são tolos, e os toques pequenos e suaves, para que te façam tremer e para que não te consigas ainda habituar…”

É tão simples dizer e saber que quero que por vezes começo até a perguntar se quero mesmo, se é assim tão simples, tão cheio de tudo isto, estas emoções todas a que já me não estava afeita. Parece ser sempre demasiado…para que o seja mesmo. Estou sempre á espera de ver surgir algo que me diga não de forma clara e sucinta, para que deixe de andar nesta roda-viva e saiba que é igual aos outros.
Mas na verdade, se continuar a ignorar que não é, talvez nem eu mesma consiga ser suficientemente feliz que justifique o facto de não ter lutado pela felicidade, e tê-la deixado fugir de debaixo dos meus pés…
As palavras nunca me chegam. Não me saciam, não extinguem a vontade de voltar a ouvir tudo de novo, repetido. Seguro-me aí…com o medo ansioso de me faltar esse apoio num ápice…enquanto me distraio um bocadinho.
Não as vou dizer. Não as posso dizer ainda. Agora, que ainda não sei quais as que me dirias, para além de tudo o que é dito. Para além de todas as frases com sentimentos camuflados, que percebemos, mas que fingimos não perceber, na expectativa que um abra o jogo…
Que ponha as cartas na mesa, sem impedimentos… Mas ninguém o faz, porque nenhum de nós está certo ou seguro de saber com todas as convicções que não vai ser injustiçado por um sentimento de menor valor que o esperado…
Por enquanto nada chega para que possa sair por aí dizendo que consegui voltar a sentir aquele tremor característico…aquele que quando sentes, te faz ouvir uma vozinha na cabeça que diz sempre o mesmo…: “Pronto…Já está…! Já foste…”
Já está…a mesma expressão de uma tarefa acabada. Eu concluí apenas a primeira. A de saber que sim, que penso em ti antes de adormecer. A de acreditar e aceitar que sim, porque…sim. Porque enquanto for assim, enquanto não
chegar…vai parecer que há sempre mais…mais para lá de tudo o resto.

“Em quem pensas antes de adormecer?”

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