sábado, 24 de julho de 2010

"Se, esteja onde estiver, arranjar maneira de te ver, só ficarei triste, como fico triste sempre que vejo uma vida desperdiçada, uma vida em que o caminho do amor não conseguiu cumprir-se."

Susanna Tamaro




Nunca te sentiste sozinho? Nunca te sentiste a fazer a travessia contrária?
Nunca sentiste dor nos teus joelhos, nas palmas das tuas mãos, no fundo raso do teu peito?
Nunca sentiste o ar pequeno demais? Pesado demais?
Donde vieste? Quem és tu, que não a imagem de uma pessoa, a folha de rosto
de uma resma de papéis amachucados ?
Magoa-me. Faz-me doer, outra e outra vez. Sorri de gozo.
Vai-te embora e volta depois, quando eu já estiver bem. E faz com que fique tudo mal.
E faz-me doer outra vez.
Nunca precisaste de um abraço? Onde pudesses descansar
dessa tua pose de defesa para com a vida. Onde pudesses baixar
a cabeça e admitir que também te cansas.
Eu gostava. Gostava tanto de saber em que lugar tu te deixas cair
quando a tua máscara pesa demais e não te deixa estar de pé.
Nunca precisaste de um abraço?
Deixa-me abraçar a tua escuridão. E faz-me doer outra vez. Magoa-me.




terça-feira, 20 de julho de 2010

Boa sorte.




Tu vais continuar a sofrer mesmo por baixo do seu nariz.
Mas ele não pode sentir o cheiro que exala da tua dor. Ele desvia a cabeça e fica são. Não é como eu, não se inebria da necessidade louca de te segurar por um braço para não te deixar cair, não recebe os teus murros no estômago enquanto luta por te manter a face seca e protegida do frio.
Diriges-me tantas palavras aguçadas. Eu sei que as minhas te ferem ainda mais, mas é um facto que a verdade dói na maior parte das suas aparições. Devias sabê-lo também, tu que sabes tanto acerca da vida.
Tu que já sabes escolher quando usar o coração, ou que achas saber. Tu que mantinhas a tua mente fria para que pudesses encontrar algum sentido para aquilo que não o tinha.
Eu gostava de te ver sorrir mais uma vez antes de ir embora. Um dia iremos todos, tu sabes. Mas eu gostava que tu pensasses em ti sozinha, em ti como coisa final e não extensão de alguém.
Tu não precisas de ninguém, mas mantens-te ali enquanto ele segue para a frente. Tu esmuraa-lo nas costas, tu agarra-lo pelos tornoze-los, tu arrastas-te por ali, mesmo por cima das suas pegadas.
Tu tens um caminho, não podes tomar o dele só porque vai para longe de ti.
Isso não tem sentido. Porque é que agora não tentas encontrar o sentido?
Tu sabes que nunca vais puder guardá-lo mais do que já o guardas-te, e sabes que ele não te vai guardar mais. Tu continuas a luta porque te dói desistir, mas não vai doer mais quando ele to obrigar a fazer?
Eu gostava de te ver sorrir mais uma vez. Gostava de ouvir a tua voz mais uma vez, sem esses espinhos todos. Gostava de te sentir perto sem me sentir uma inimiga.
Eu não te posso ver cair novamente. A tua vida já é demasiado complicada, porque é que insistes em complica-la mais? O teu coração já dói demasiado, porque é que ignoras que ele se desfaz ?
Tu vais continuar a sofrer. E ele nem vai dar por nada...
E um dia quando acordares, vais perceber que a felicidade nem sempre está onde a vimos reluzir.
Como tudo na vida, ela é matreira.
Quando precisares de mim chama-me, eu vou voltar. Agora, não posso ficar aqui.
As tuas lágrimas queimam-me, a tua falta estrangula-me, a tua posição defensiva faz-me doer mais do que me irrita.
Eu não sei como vai ser, é a primeira vez que te deixo sozinha. Mas não posso estar mais presente do que tenho tentado estar.
Desculpa. Boa sorte.


o amor tem destas coisas, não tem?

sexta-feira, 16 de julho de 2010

You're dead.

Tornavas a vidinha demasiado simples, tão simples que chegava a ser fácil se tivesses uma capacidade de aceitação acima da média.
Eu não a tinha, e tu sabia-lo.Mas enquanto fosse possível manter isso guardado estava (quase) tudo bem.
És difícil de amar. Quase impossível. Não são os outros que não te tentam amar, és tu que actuas sobre ele com erva daninha. Não te apercebes que fazes com que todas as forças sejam deitadas fora, que obrigas a que te deixem para trás. Actuas como pântano espesso no teu próprio coração. Tu deixaste-o lá atrás não foi? Continua a substituir. Anda por aí, convencido de que o teu caminho é longoe está a ser percorrido da melhor maneira.
Quis aprender-te. Salvar-te sabe Deus de quê!
Há medida que conjugo os verbos no passado o peito começa a fechar-se outra vez. Fechou para obras sem prazo de reabertura.
Ainda me sento entre o desespero de duas soluções, uma mais inantigível que a outra. Tenho saudades tuas (?). Gosto de ti (?). Fazes falta (?).
Que diferença faz...(?)
Nunca soubeste e nesta vida não hás-de conseguir saber quanta vida essas palavras trazem. (e quanta morte tu lhes ofereces.)




The last time. You're dead.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Voa porra! VOA!

Não basta agarrares na tua vida e sentá-la no sofá mais perto para teres a certeza de que está estável.
Não basta desenhares um sol no teto do teu quarto. Não basta fechares-te no quarto.
Não te basta um sorriso na cara, porque o sorriso da face pode não ser o mesmo sorriso que o interior.
Não te basta cortares umas asas de cartão e colá-las ás costas só para teres a certeza que as tens.
As asas não foram feitas para enfeitar. Os tetos não foram feitos para servirem de céu. As vidas não foram feitas para ficarem quietas e enroscadas no sofá como um gato no Inverno.
Tu não foste feito para parar a meio do caminho, não foste feito para desistir antes de chegar, se não seria desnecessária a tua casa no final do caminho.
Não foste feito para ser o centro de tudo, mas para chegar ao centro de tudo.
Não foste feito para toldares apenas o chão com os teus pés, mas para chegares aos céus e agitares os mares com o que vem de ti.
Não és tu, matéria, coisa palpável, objecto. És tu sonhos, alma, aura, coração, és tu inalcançável, inacabável, és tu extensão de ti mesmo.
Voa porra! VOA! Estás á espera de quê? Não te prendas, não te reprimas, não te escondas.
Sai, diz ao mundo que estás aqui e ouve o mundo dizer-te que precisa de ti onde estás. Porque tu és um, mas fazes outros milhares. Porque tu moves-te uma vez, mas dessa vez moves tantas outras coisas.
Como é que não percebes? Não percebes que não tens tempo a perder na escuridão. Não tens tempo a perder na cegues, no chão frio, nas tuas faltas, nos teus finais, nas tuas fraquezas.
Não há nada aí para ti, daí já não podes tirar nada. No teu final tem de existir apenas a chance de recomeçar, de chegar a outros lugares onde não estiveste antes, de adorar outros sentimentos, de fazer crescer sorrisos em caras diferentes.
Tens tanto á tua espera, porque é que continuas a chorar?
Tu ainda não sabes nada vida. Dói-te? Tu estás a crescer, claro que dói! Tu estás a tentar, claro que erras! Mas não percas tempo, porque ninguém to vai devolver.
Voa porra! Agarra-te a tudo o que ainda não viveste e fá-lo melhor do que foi tudo o que já viveste. Não percebes?
O mundo está á tua espera. Tu estás á tua espera.
Não percebes?
Corre para a felicidade, abre os olhos para a ver. Se não o fizeres, ela não virá até ti. Se não o fizeres continuará escuro.
O que é que estás aí a fazer ainda?
Voa porra! VOA!
(e sê feliz.)


" It takes some work to make it work.
It takes some good to make it hurt.
It takes some bad for satisfaction."

segunda-feira, 12 de julho de 2010

As coisas fáceis.








Doeu-te ao início, mas agora nem faz diferença. Sentes um pequeno baquezinho,
os teus pés andam um pouco mais devagar, mas não cais.
 Na tua face não se vêm acumuladas quaisquer rugas, as dificuldades não passam
de pequenas pedras que atiras ao rio, e corres para apanhar
as festas, os sorrisos de ocasião, as bebidas pagas
por amigos de hora, o descanso das danças
entre corpos suados e mentes vãs.
Cansaste-te ao início, mas agora és tu quem controla o andamento.
Continuas, se alguém se cansar, continuas mais um pouco
para passar.
Tu não sentes falta de ninguém. Tu não te deixas apanhar por isso
a que os tolos chamam de "amor". Porque o amor é para eles, para os tolos.
Para aqueles que são vulneráveis, que são fracos. E tu és forte, és muito forte.
 Porque o amor é para os tolos, tu consideras-te muito inteligente.
Tão inteligente que a tua vida se resume a um básico trocar de figuras.
Tão inteligente que se torna fácil desistires.
De ti .Da vida. Da felicidade.
Pensa duas vezes, és mesmo feliz?


quinta-feira, 8 de julho de 2010

Dias de cão

Preciso de uma caixinha de papelão, pequena e normal.

Preciso de me pôr lá dentro e fechar a tampa.
Preciso de desenhar lá um céu, e uma praia e umas quantas coisas a cores.
Preciso de uma caixinha de papelão onde me esconder por hoje, onde fingir por hoje, onde respirar por hoje.
Lá fora está sempre frio demais, cinzento demais, poluído de mais.

Alguém tem uma caixinha de papelão, pequena e normal?



(e mais uma vez me apanhas nas voltas redondas desta vida, com o coração nas mãos, e uma quantidade excessiva de um não sei quê que me lembra que há um espaço vazio em mim, e o faz doer. Não sei se são saudades tuas. Mas se forem...leva-as para longe de mim.)

sábado, 3 de julho de 2010

The Best Deceptions

"A vida é sempre a perder."

Se alguém me puder dizer como saio daqui, por favor que grite. Grite para que o meu coração volte a bater, mesmo que seja de ansiedade.
Se alguém tiver a força necessária para me fazer mover, por favor chegue perto de mim. Chegue perto e pegue-me na mão, mesmo que logo seguidamente a tenha de lagar.
Eu perdi algo meu, se não me perdi a mim mesma, e não consigo encontrar sequer uma prova de que existi. Ou de que existo.
Há noites assim, em que todos os lugares queimam demasiado. Em que o fogo se alastra e te queima os pés, e o fumo te arde nos olhos. E tu não aguentas as esquinas de sentimentos que tens de dobrar até ao adormecer. Tu não aguentas as gotas da saudade que te caem sobre a cabeça e te encharcam o corpo e te tornam os movimentos difíceis. E tu não aguentas o vento que corre pela porta de entrada da tua vida e se cruza com o da porta de saída, que não podes imaginar de onde vem, mas te parece sempre perto, muito perto, excessivamente perto!
Fechas-te no quarto, e abraças o escuro com a maior força que os teus braços podem fazer. Sabes que a tua alma precisa de luz, mas essa luz come-te a pele até te deixar com uma pele nova e isso custa. Isso custa porque as engrenagens do teu coração deixaram de deslizar facilmente, e agora roçam umas nas outras, e entalam a tua confiança e a tua vontade de amar, e a tua vontade de salvar, e a tua vontade de acreditar, de criar, de arranjar a porcaria de vida que tens tido, e a porcaria de mundo onde essa tua vida parece fazer sentido, mas não o pode realmente fazer porque nada o faz. É essa ilusão que te continua a empurrar para um sorriso, ou um abraço a mais. E é essa ilusão que nunca vai passar de ilusão sempre que alguém chegar á tua vida, sempre que alguém te disser “para sempre”, sempre que alguém prometer que não te vai magoar. Essa pessoa vai partir. Esse “para sempre” é longo e o teu tempo pode acabar amanha. Essa promessa vai ser quebrada, e ninguém se vai lembrar de que ela foi feita, a não ser aquela a quem foi prometida.
E tu choras, e voltas a chorar, e o teu corpo desidrata de tantos dias longe do sol, de tantos dias apagado nas memórias de uma coisa que foi e que não voltará a ser. E tu perdes tempo, e tu perdes vida, e lá fora mil oportunidades ganham pernas e correm velozmente para longe.
Onde é que tu vais? Onde é que eu vou?
Há algum caminho para nós que não leve a um final semelhante e esperado desde que nascemos?
O que é morrer com honra? É morrer com pessoas que te amam perto, a chorarem-te, a acompanharem-te?
Acompanharem-te para onde? Tu ainda estás ali? Para onde é que vais, para onde é que foste?
E nessa hora, quem é que te vai levar em lugar algum que não a memória? Uma memória que fica guardada lá dentro, como guardas um livro já lido no lugar escondido da estante, como passas um capítulo e não voltas atrás para o reler.
Há noites assim. Em que nada mais parece valer a pena, mas em que essa sensação não é suficiente para te fazer desistir. Ainda não, mais um pouco.
Há noites assim, em que não me encontro nem no espelho, em que peço baixinho por adormecer.
Porque de alguma forma, tu sabes que no renascer de um novo dia, tu renasces. E o teu coração trabalha, por mais gastas que estejam as suas roldanas…e tu esqueces o fim, e vais correndo por esses caminhos…Como se de alguma forma o pudesses mudar.
Mas ele é sempre igual.