sábado, 31 de outubro de 2009

Por agora...


Fechar os olhos e respirar fundo.
Um respirar fundo tão diferente dos que tenho respirado. Aquele respirar fundo que achamos, se pararmos de procurar. Aquele respirar fundo mais suspiro, que em finais, pensamos nunca mais voltar a conseguir soltar.
Por vezes… percebo-te tão bem. Percebo-te ainda que a dúvida me inunde a vontade repentina e usual de te pegar pela mão, e sentir que ela treme…Sentir a tua mão na minha, pouco certa de que deve estar, intermitente…a tentar sair, mas cujo desejo é ficar. Ficar ali, segura na minha, ancorada no meu sorriso, que esperas que não seja igual a todos os outros…mas que seja o sorriso.
É então que fecho os olhos. Fecho-os lentamente, com a calma e serenidade que essa certeza, ainda incerta, me convêm… Essa certeza que me sobe demasiado, que me faz leve, demasiado leve, levíssima demais para alguém tão cheio…Um dente-de-leão adormecido numa rajada de vento.
Tentar fugir de ti, agora, é tentar fugir de mim…Eu não posso sair de mim, não posso abandonar-me…Posso apenas esperar que tu o faças. Mas talvez que nem fiques completamente. Ou talvez que fiques imenso sem sequer teres noção que o fazes.
Achei que não conseguia fechar os olhos e respirar fundo com toda essa suavidade que o sentimento impõe aos actos, aos pensamentos, às palavras…
Vi-me ainda presa, ainda muito apegada á chave que me transpõe e me ultrapassa, mesmo sendo minha, e que eu segurei todo este tempo, sem saber que deveras o fazia…Ouro transparente nas mãos de uma criança pobre.
Fecho os olhos. Fecho os olhos sem ter medo de cair, de me atirar de encontro a ti, porque na minha teia de razões e de adivinhação, de actos e emoções, ainda está presente a inicial inocência de que te posso guardar em mim sem que o tenha de te dizer, e que ainda assim, tu vais estar lá para me segurar. Que queres correr e apanhar-me, e que isso não te magoa as pernas, e não te cansa o corpo.
Fecho os olhos. Fecho os olhos sem ter medo que milhões de ilusões e mentiras se agitem sedentas ao meu redor. Por agora está tudo bem, e por agora não preciso de mais nada senão desta calma, deste arrepio frenético que não pára de me fazer sorrir, desta força que constantemente me puxa para outro qualquer lugar…tão tão longe daqui…tão tão melhor que aqui.
Para outro qualquer lugar onde o sol não brilha, mas também não chove. Onde o céu não é azul suficiente para dizer que seja, e onde o cinzento não reina. Onde o ar não me sufoca, e não me atordoa, cheio de cheiros doces…mas que me entra pelos pulmões fresco e simples.
Para outro qualquer lugar.
E agora até parece que tudo isso te move, mas não te mexe. Move-te para lá de quaisquer barreiras, e nem sequer mexes um pé.
Há quem olhe para mim e diga que desta vez consegui. Que agora é a sério, o mais a sério de todos os a sérios, porque desta vez eu recuso-me a dizer que o é. Porque desta vez eu não quero que tu notes que eu troco as palavras, e não largo as mãos…que mesmo não olhando, eu olho e dirijo toda a atenção.
Desta vez eu não quero que as ânsias me transformem em marés de inconsequência desvairada, que só pára quando embate. Não quero que o tempo tenha controlo de mim desta vez, se é que há esta vez.
E agora, agora até faz sentido para mim ter o coração distraído. Mantê-lo desocupado para que se prepare, mantê-lo adormecido, para que ele realmente acorde.
Por agora está tudo bem. Enquanto os meus pulmões estiverem embevecidos, o meu coração de novo em tons de vermelho sangue, e os meus olhos semi-fechados, semi-abertos, tudo fará sentido. Tudo estará bem.



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