domingo, 6 de dezembro de 2009

Dar em louca! |:


É incrivel como não me sei. Não me sei de lado para lado nenhum. Não me sei ao contrário, do avesso, e muito menos me sei ás direitas.
Não me sei a nenhuma hora, até naquelas em que acho que me sei, deixo de me saber.
Esqueci-me de ter noção que me sabia quando ainda me sabia bem, e me sabia em todos os sentidos do nenhum que estas frases fazem.
Simplesmente perdi-me no meu saber, e dói-me. "Dóio-me" em toda a extensão do algo que sou, que não sei saber o que é.
Parece até que saí de mim, e andei por aí a vaguear, voltando maior, e ainda assim mais pequena.
Trouxe mais em mim, mas do muito que trouxe, pouco me faz falta e pouco me ensina. A maioria é enchimento. São pequenos cubos de esponja com que se enchem as almofadas.
Um dia sentei-me em frente ao espelho, e olhei bem para o reflexo. Fazia cada movimento mais devagar, para o conseguir avaliar...para ver como todos os outros viam...E bem, não encontrei nada de brilhante. Não encontrei nada que me encontrasse ou me fizesse encontrar. Parecia mais uma boneca de porcelana cuja corda ainda durava, que um ser humano cujo coração bate, os olhos se entornam quando demasiado cheios, e o calor abraça o frio num choque de temperaturas.
Eu não me sei. Voltou a ressoar dentro de mim. Na inconstância das coisas, na ironia do momento e no habitual da minha distracção trambolha dei por mim a ouvir:

"Bem, pelo menos não estás vazia. Pelo menos tens esta voz irritante para te fazer charadas e te ir confundido as palavras quando achas que elas formam uma resposta. Sempre te podes entreter a tentar desmontá-las e remontá-las como um puzzle sem peças para encaixar."
E eu faço-o. Eu fico ali, fixada no nada há espera de conseguir separar cada palavra, depois cada frase, e por fim perceber o sentido que tudo aquilo faz. Mas nada encaixa. Vou-me vendo contrariada por um bicho estranho que carrego algures, numa metade mais imediata e maior no coração, e outra, mais retórica e racional no cérebro.
Se tivesse que falar dele, diria que não me pertence totalmente. Já pertenceu, mas agora, nem parece ser o meu. Deitou umas quantas coisas há rua que eu não disse para pôr sequer em sacos aquando as limpezas grandes do Verão. Tirou o pó de outras quantas, que eu guardava no sotão e que eu afirmei que era mais seguro nem tocar. E ainda foi capaz de pôr adereços novos, uns que ao princípio eu achei aberrações, e agora até ficam bem, até dão um ar confortável; outros com os quais enchi cantos e mais cantos das divisões, e achei que ficavam perfeitos e que sim, era mesmo aquilo que era necessário para ali, e que neste momento nem sei onde pôr...Começaram a destoar, a ficar baços e cada vez mais pesados em relação ao ar leve de que precisava ali dentro.
E se me fosse obrigado a acrescentar algo mais, diria que ele brinca comigo, e leva-me a brincar...é como andar ás cegas com uma faca na mão...Podes rasgar apenas o tecido, mas podes também rasgar a pele de quem te aparece...Podes mandar embora alguém que te quer tirar a venda, e podes também deixar ficar aqueles a quem dá jeito que a tenhas em frente aos olhos (e ao coração!), enevoando-os.
Enfim...ele já foi mais sincero e calmo. Já me soube e já me fez saber melhor.
Sempre que o tento fazer ficar quieto, que lhe ato braços, mãos e pés, que lhe calo a voz, ele arranja sempre forma de me prender a mim. De me pôr entre o abismo e a lâmina da espada.

É como se me dissesse: "Força...é só escolheres, não é tão fácil? Ah, mas sabes, o que está no fundo do abismo pode ser bom...mas também pode ser mau...e de lá custas a sair...Em relação á espada, ela pode brilhar muito a teus olhos, mas não passar de um pedacinho de ferro velho nas minhas mãos."
E agora diz-me tu, eu...Como é que eu me posso saber, quando nem sei para onde caminhar?
Depois, são os pés. Eles não conseguem ficar parados por muito tempo...têm algo que os alicia sempre e lá caem...atrás deles caio eu.
E eu não me sei, e continuo a não me saber.
Sei apenas que me perco dentro do labirinto que substituiu a imagem que eu tinha quando me sabia. Lá, quando eu quero o frio, está o Agosto a meio. Quando eu espero o Agosto, espalha-se o Dezembro, e não existem quaisquer tipos de aquecedores. Quando me apetece descansar, obrigam-me a correr, o chão foge. E quando quero correr, o chão torna-se uma espécie de pasta ardilosa, um cimento aguado. Quando sinto a tua falta, tu não vens. Mas quando não a sinto, tu não me deixas. Tão depressa preciso de água, como de fogo, e tão depressa me canso do amor, como ele me é um bem essencial.
Já pensei precisar apenas de me afastar de tudo, e já pensei que precisasse mesmo de estar bem perto, bem junto.
No final, acabo por nunca querer estar num sítio só, acabo por nunca me encantar mais que breves segundos, acabo por saber demasiado quando o pouco me fazia mais feliz, e acabo por ver a felicidade como o mel numa armadilha para ursos, como a imagem de uma montanha coberta de neve. Para lá dela, não existe mais nada.
E não me sei!
E começo a achar que tenho graves problemas.

Sem comentários:

Enviar um comentário