quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Ensaio sobre a vida. (um dos temas)

 Somos um bocado parvos, nós. A vida pode ser eterna, mas o que nela consta é demasiado efémero para que possamos alguma vez mantê-lo a vida toda. A vida pode ser eterna, mas essa eternidade é feita de várias sequências, vários filmes que começam e acabam, começam e acabam. Cada um com um tema diferente e um propósito diferente. E se é um filme não poderia deixar de ser classificado: comédia, romance, terror...
Sim, o que estou a tentar dizer em primeiro plano é que a vida está dividida em segmentos, e que esses segmentos têm todos um propósito ditado provavelmente por uma força maior (ou simplesmente pelo ciclo natural e básico que já vem anexado á ideia "vida"), e que esse propósito leva-nos a classificar esses mesmos segmentos com a mesma facilidade com que se classificam os filmes.
Se os segmentos fossem todos iguais e deles constasse sempre o mesmo, se a acção nunca mudasse, então seria de pensar qual era o propósito de chegarmos sempre ao mesmo propósito? Na verdade, como somos parvos, essa seria a primeira hipótese.
Mas pensemos, esses propósitos não são mais que as chamadas "lições da vida" ou os vários itens que devem constar para um amadurecimento individual, logo pode existir mais que um segmento com o mesmo propósito. Podem existir dois segmentos com o mesmo propósito, ou três, ou quatro, devido á bipolaridade das palavras, á forma moldável que elas têm, devido ás pessoas que andam por aqui como sonâmbulas ou á nossa memória que, ainda que grave muitas coisas, não deixa de ser falível.
Aquele que nunca encontrou uma pedra no caminho quando for surpreendido por ela vai perder metade do seu tempo a tentar destruí-la. Fazê-la desaparecer. E se não for capaz vai começar a desesperar... Mas um que a já pesou pode chegar e dizer-lhe que é mais fácil se a levar consigo, porque ela não pesa assim tanto e poderá ajudá-lo. Ele diz porque já sabe. E já sabe porque já a pesou, e se já a pesou provavelmente já a viu, já a encontrou no seu caminho.
O que eu quero realmente dizer é que esses segmentos existem com o propósito de nos ensinarem uma forma de chegar ao teor dos propósitos desse segmento mais rapidamente num próximo encontro com o mesmo propósito, ou seja, que enquanto não aprendermos que mais vale levantar a cabeça e andar mesmo que doa como a porra, a pedra vai continuar a aparecer e a parecer-nos cada vez maior que nós. Impressão ditada pelo pequeno tamanho que vamos adquirindo, a ignorância a servir como poçãozinha mágica para encolher. (mais no interior)
E nós somos uns idiotas, continuamos com aquela cara de parvos e coitadinhos até que alguém chega perto de nós, nos dá um par de bofetadas e nos vê automaticamente a reagir! "BOA, ALELUIA!", tava a ver que não percebias.
Voltando agora á questão do efémero e do eterno, como disse no início desta suposta reflexão (denote-se que disse suposta) as coisas que nos enchem uma vida são efémeras, por mais que nos pareça que vão ser eternas. Só a vida é eterna, a vida invólcro, a vida caixa, a vida o que está á volta. A vida, conjunto de tudo. Porque como também disse, a vida está composta por vários segmentos, e enquanto os segmentos se alteram, alteram-se também o que está dentro dos segmentos, e o que está dentro do que está dentro dos segmentos.
Pensemos me bonecas russas. A vida é a maior, dentro dela há mais sete bonequinhas, que representam segmentos, e dentro dessas sete bonequinhas há ainda mais espaço que é ocupado pelas coisas que se encontram dentro dos segmentos. E deveriam haver ainda mais outras bonequinhas dentro do que está dentro das bonequinhas dos segmentos.
A única diferença é que nós nunca veremos os limites da primeira boneca russa, porque ela não tem limites, é eterna; e possivelmente só notaremos os limites das segundas bonequinhas (os segmentos) e das terceiras (o que está dentro dos segmentos) quando tivermos passado para o segmento seguinte. Podemos assim concluir que no primeiro segmento de vida que vivemos (a infância) nunca poderiamos dar conta do propósito do que estavamos a experienciar? Certo, não só porque nunca houve outro segmento antes, mas também porque é uma espécie de "presente" dessa idade. Somos ignorantes inocentes, e não ignorantes com culpa. Não nos podemos culpar de não sabermos aquilo que ainda não nos ensinaram, logo não temos culpa da nossa ignorância. A partir do segundo segmento já podemos optar por ser ignorantes (porque é mais fácil) ou por tomar as rédeas dos propósitos na mão (o que dá algum trabalho), e aí acabam-se também as desculpas para a não aprendizagem, para o não amadurecimento. É de seres preguiçosos que nascem corações fúteis. Seres que nunca procuraram mais que o reflexo das coisas, que se deixaram encantar apenas e só pela pele do mundo e pelos hábitos automáticos e pré-gerados de uma sociedade não amadurecida. Aquilo que é mais fácil é proporcionalmente directo ao que é mais apetecido, e áquilo a qual mais população adere.
É daí também que nasce o efémero daquilo que nos enche a vida, uma dessas coisas são exactamente as pessoas que por ela passam e aquilo que essas pessoas guardam dentro das suas mentes e coraçõezinhos.
Permitam-me agora desviar-me repentinamente e falar das várias categorias em que se podem enquadrar as mentes e os corações. Num primeiro plano temos o coração simples, ainda brilhante, acabado de sair do primeiro segmento. Este coração é um coração fraco, porque tal como a pessoa é um coração infantil. Um coração bébé que nem ainda sequer começou a sua formação, dando-nos assim a correcta ideia de que um segundo segmento vivido com um coração de primeiro segmento vai levar-nos a uma pessoa não amadurecida, vai levar-nos portanto a um ignorante. Estes corações têm, geralmente, o hábito de agir por impulso e sentimento. Se este coração for acompanhado por uma mente igualmente de primeiro segmento, é, como se diz, "a morte do artista"! A mente tal como o coração é fraca, e permite tudo aquilo que o coração manda. Forma um conjunto insensato, impulsivo, e muitas vezes destruidor (de si mesmo).
Falemos agora dos corações amadurecidos. Um coração amadurecido é um coração que já passou por alguma aprendizagem, é portanto um coração naturalmente de segundo segmento. Se existir algum coração amadurecido no primeiro segmento de vida de alguém, duvidem que essa pessoa seja sã. E digo isto porque as aprendizagens iniciam-se no segundo segmento, como já havia referido,me parece. Este coração de segundo segmento é um coração forte, que "tem costas largas" e é capaz de se manter firme sem correr atrás de um impulso ou qualquer vontade repentina. Aliado a uma mente amadurecida, é o plano exigido para o crescimento favorável de uma pessoa. Isto acontece porque uma mente amadurecida pensa as decisões antes de as tomar, pesa as consequências e ao mesmo tempo que tem dúvidas procura as respostas. Isto quer dizer que acalma o coração, não toma as suas vontades como garantidas e não o deixa falar mais alto sem antes ter a certeza que ele vai só falar alto e não gritar e espernear.
 Podemos então a partir disto traçar o perfil de uma pessoa de coração e mente amadurecidos, assim como o perfil contrário. E isto leva a que digamos que uma pessoa com um coração e mente amadurecidos pode muito mais facilmente coleccionar um maior conjunto de segmentos na vida de outra pessoa que uma pessoa não amadurecida, pela simples razão de que não corre atrás de tudo, mas do que sabe ser melhor. Se corre atrás do que quer, é outro assunto, pois a maior parte da vezes aquilo que queremos não é o melhor para os outros. (e nem para nós)
"A culpa é dos nossos desejos vãos e insensatos", e não podia ser  mais verdade. Mas claro que é a nós que cabe a tarefa de controlar esses desejos, e como eu estava explicando é aí que as categorias dos corações e das mentes entram, fazendo depois diferença nas pessoas, que vai fazer diferença nos segmentos, que vai fazer diferença na vida. Está tudo ligado, causa e consequência.
Ainda assim, também esse amadurecimento é falível, e as pessoas portadoras dele acabam por ir embora. Muitas vezes porque o ritmo da aprendizagem não é o mesmo e as pessoas ficam anacrónicas uma á outra, outras porque há desejos mais fortes e mais ditadores, e por mais umas quantas razões. No entanto essas situações podem ser aceites como propósitos, que não percebemos enquanto vivemos, mas que quando olhamos para trás nos mostram a factura e em nota de rodapé a explicação.
As pessoas são efémeras, não importa quão eternas as queiramos fazer. Em algum segmento da tua vida, elas vão começar a ser anacrónicas a ti, e se não acontecer, elas vão simplesmente tomar decisões que poderão afastar-vos.
Os objectos são demasiado frágeis. Tudo se parte, se racha. O dinheiro depressa se perde em devaneios, em poderios mal calculados que deixam apenas um vazio e uma pessoa vazia (ou não amadurecida) no seu lugar. A fama tem o mesmo efeito que o dinheiro, quando se esquecem de ti, tu também o começas a fazer. O poder é idêntico á fama, mesmo quando o exerces estás sozinho pois todos te invejam e levantam as suas vozes para reclamar, sem se aperceberem sequer que aquilo pela qual estão a reclamar vai ser a morte daquele contra o qual reclamam.
Portanto nós somos realmente um bocado parvos. Arranjámos uma data de recursos expressivos para nos enfiarem olhos adentro e nos calarem o choro, quais bébés esfomeados á procura de mama calados por um biberon de plástico barato. Enganamo-nos a nós próprios e deixamo-nos enganar por nós próprios.
Nada é eterno sem ser a vida. A primeira bonequinha russa, o invólcro. De resto terás os segmentos, em que uma por outra vez pode aparecer alguém com um coração amadurecido e te acompanhar por vários deles. (ou até mesmo ao fim.)
E quando o segmento acabar lembra-te que ele tem sempre um propósito e guarda esse propósito contigo, não com o choro de uma birra, mas com o sorriso acomodado e sábio de quem sabe o que está a acontecer no seu filme, e de quem não tem medo da próxima cena pois sabe que pode improvisar!

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