sábado, 3 de julho de 2010

The Best Deceptions

"A vida é sempre a perder."

Se alguém me puder dizer como saio daqui, por favor que grite. Grite para que o meu coração volte a bater, mesmo que seja de ansiedade.
Se alguém tiver a força necessária para me fazer mover, por favor chegue perto de mim. Chegue perto e pegue-me na mão, mesmo que logo seguidamente a tenha de lagar.
Eu perdi algo meu, se não me perdi a mim mesma, e não consigo encontrar sequer uma prova de que existi. Ou de que existo.
Há noites assim, em que todos os lugares queimam demasiado. Em que o fogo se alastra e te queima os pés, e o fumo te arde nos olhos. E tu não aguentas as esquinas de sentimentos que tens de dobrar até ao adormecer. Tu não aguentas as gotas da saudade que te caem sobre a cabeça e te encharcam o corpo e te tornam os movimentos difíceis. E tu não aguentas o vento que corre pela porta de entrada da tua vida e se cruza com o da porta de saída, que não podes imaginar de onde vem, mas te parece sempre perto, muito perto, excessivamente perto!
Fechas-te no quarto, e abraças o escuro com a maior força que os teus braços podem fazer. Sabes que a tua alma precisa de luz, mas essa luz come-te a pele até te deixar com uma pele nova e isso custa. Isso custa porque as engrenagens do teu coração deixaram de deslizar facilmente, e agora roçam umas nas outras, e entalam a tua confiança e a tua vontade de amar, e a tua vontade de salvar, e a tua vontade de acreditar, de criar, de arranjar a porcaria de vida que tens tido, e a porcaria de mundo onde essa tua vida parece fazer sentido, mas não o pode realmente fazer porque nada o faz. É essa ilusão que te continua a empurrar para um sorriso, ou um abraço a mais. E é essa ilusão que nunca vai passar de ilusão sempre que alguém chegar á tua vida, sempre que alguém te disser “para sempre”, sempre que alguém prometer que não te vai magoar. Essa pessoa vai partir. Esse “para sempre” é longo e o teu tempo pode acabar amanha. Essa promessa vai ser quebrada, e ninguém se vai lembrar de que ela foi feita, a não ser aquela a quem foi prometida.
E tu choras, e voltas a chorar, e o teu corpo desidrata de tantos dias longe do sol, de tantos dias apagado nas memórias de uma coisa que foi e que não voltará a ser. E tu perdes tempo, e tu perdes vida, e lá fora mil oportunidades ganham pernas e correm velozmente para longe.
Onde é que tu vais? Onde é que eu vou?
Há algum caminho para nós que não leve a um final semelhante e esperado desde que nascemos?
O que é morrer com honra? É morrer com pessoas que te amam perto, a chorarem-te, a acompanharem-te?
Acompanharem-te para onde? Tu ainda estás ali? Para onde é que vais, para onde é que foste?
E nessa hora, quem é que te vai levar em lugar algum que não a memória? Uma memória que fica guardada lá dentro, como guardas um livro já lido no lugar escondido da estante, como passas um capítulo e não voltas atrás para o reler.
Há noites assim. Em que nada mais parece valer a pena, mas em que essa sensação não é suficiente para te fazer desistir. Ainda não, mais um pouco.
Há noites assim, em que não me encontro nem no espelho, em que peço baixinho por adormecer.
Porque de alguma forma, tu sabes que no renascer de um novo dia, tu renasces. E o teu coração trabalha, por mais gastas que estejam as suas roldanas…e tu esqueces o fim, e vais correndo por esses caminhos…Como se de alguma forma o pudesses mudar.
Mas ele é sempre igual.

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