quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Desilusão.


Deves ir completamente. Mesmo se te chamar. Ainda que a minha voz fique rouca, te pareça á beira de um colapso pedindo-te para que não vás. Deves ir, e nunca olhar para trás.Deves seguir o teu caminho, e levares tudo o que é teu, tudo o que faça que não me esqueça que um dia estiveste tão mais perto, e que eu não te soube segurar. Que não bastei para te fazer ficar.Que por mais que o quisesses fazer, não bastava o nosso simples querer.Deves fechar os olhos, e fazer do teu coração uma pedra. Deves calar a tua voz...Deves esquecer-te que a minha espera nunca terá fim, e que serás sempre uma parte que me falta, para que não te apeteça voltar quando sentires o teu peito apertar e não conseguires descansar ao anoitecer, porque não consegues sentir o cheiro do meu cabelo. E porque já não podes olhar para mim, e porque já não sentes a minha inocência em ti. Esse carinho tão grande que por vezes não cabia no peito, e nós soltávamos por segundos até que as nossas faces coravam, e ficávamos sem jeito. Era essa a magia, era esse o toque especial...Era isso que nos movia, que nos aproximava e que não nos deixa olhar para a frente sem que nos levemos atrás...Sempre na espera.Mas agora, agora deves ir. Deves ficar longe, onde a tua presença repentina não me faça doer, mais que a tua ausência repetida.E eu devo ficar aqui, nesta esperança descabida, neste entretanto sem fim, neste caminhar mais parado, como se arranjasse desculpas atrás de desculpas para não ir embora, sempre esperando ver-te reaparecer a virar a esquina, a abrir um dos sorrisos que não saíram da minha mente, a abrir o sol num dia de tempestade... E ainda que faça doer, que me envolva nessa ilusão, e ainda que essa ilusão por vezes me falte, e eu saiba que no lugar dela nada vai ficar, eu não me consigo desprender desta vontade quase louca, quase tão fixa como as raízes de uma árvore na terra.Lutei contra mim. Obriguei-me a correr, a fugir daqui, mandei aos pés que eles se apressassem, que se movessem antes que fosse tarde, mas tu sabes que eu sempre fui dessas que não sabem desistir, que gostam da dor de caminhar sobre o vidro, que não conseguem parar...É por isso que deves ir tu. É por isso que deves ser tu a correr na direcção contrária a mim, que deves ser tu a ir embora e a nunca olhar para trás...Nunca me estender uma mão. Então, porque razão continuas tu abraçado a mim?Então, porqur é que ainda aqui estás? Porque voltas para trás?Se não ficas completamente. E completamente não sais.Se isso me dói mais do que te segurar entre memórias e esperanças...E tu deves ir embora. Mesmo que eu chame por ti. Nunca mais deves olhar para trás.
Mas quando quiseres voltar, nem que seja só e apenas para chorar
para barafustar, ou teres alguém a quem magoar...Eu estou aqui...

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