terça-feira, 9 de março de 2010

Nas suas mãos.


Bem, acho que te devo dar os Parabéns! Realmente aguentaste mais do que podia esperar de ti…Estou a rir muito mais tarde do que acharia que riria quando isto começou.
Agora até posso bater palmas, assobiar, mandar aqueles gritinhos histéricos que as meninas mandam quando podem cheirar o seu maior ídolo no palco em frente.
Não haja dúvida que te saíste bem! Não haja dúvida que tinhas razão quando disseste que eras forte, que eras capaz, que não te cansarias…Mas e agora? Para onde fugiu essa força? Onde te esqueceste dessa capacidade?... Mas e agora? Agora, como é que se tornou tão difícil correr? Caminhar? Rastejar?...
Sabes, até os heróis precisam descansar, ou recomeçar, de vez em quando… (Até os que não o são, e o tentam ser, á força…)

Fala. Fala tudo, ri.Não, cala-te. Cala até a tua expressão irónica, de regozijo que quase te é projectada do ego vitorioso de tão grande e evidente que é.Cala-te, porque os meus ouvidos estão em sangue, de tantas vozes silenciosas que lhe diferem golpes de todos os lados.E fala, fala porque talvez as tuas palavras sejam duras o suficiente para partirem a esperança que me bloqueia a razão. E grita, porque quem sabe desta vez eu te oiça…eu não ignore a tua voz.Eu sabia, eu sempre soube. Ninguém me disse que ia ser fácil, a não ser eu, a mim mesma.Uma garantia qualquer que não passou de mais uma frase vazia escrita e reescrita, e apagada, e rasurada…E ainda assim, eu não deitei a folha fora. Amachucada, rasgada, suja…Ela sempre serviu.E agora? Agora para onde me fugiu a força…E agora, como é que me esqueci da capacidade…e agora, agora…Porque é que já não corro? Porque as minhas pernas doem.Porque é que não caminho? Porque o caminho tem demasiadas pedras e cascalhos, e lixo perdido no chão. Vidros partidos. Latas cortadas, afiadas e brilhantes. E agora, porque é que continuo a rastejar?Porque tu precisas de gritar mais comigo. Tu precisas de falar mais. De te rir mais de mim…Precisas que as tuas palavras tenham a força suficiente para me partirem a esperança…e me tirarem a mania que todos podemos ser heróis…E que os heróis nunca, nunca precisam de descansar…(Sim, eu sempre fui dessas inocentes parvinhas que acreditam em contos de fadas, e tu, sabe-lo bem.)

Porquê?... Eu não te puxei? Eu não fiz tanta força, não te apertei tanto o pulso, para que não fosses? Eu não te disse que esse não era o caminho que meninas como tu seguiam?
Porquê? Porque é que tu tens sempre de ter a mesma mania que és todo o terreno? Não foste feita para pisos acidentados…Tu sabes disso.
Não és um jipe grande, com tracção ás quatro rodas…Tu és pequena, e frágil, não passas de um carocha. Até nas silvas fazes um cortezinho, e os olhos te ardem de dor. Como é que achaste que poderias caminhar sobre esses vidros partidos? Onde é que na tua ideia, te pareceu simples ultrapassar esse solo cheio de pedras e dores ansiosas por se pegarem a alguém, e risos inquietos para se fazerem soar sobre cabeças, e honras, e orgulhos, com os teus simples pés descalços? Com essa pele ainda esticada e limpa, que nunca caminhou sobre poeira, e que nem sabe como o fazer.
Tu não pertences lá, e tu sabias. Por mais que sonhasses, tu sempre soubeste. Ainda que tenhas essa "doença" chamada esperança…
Agora acredito…acredito que todas as vezes que já morreste, foi dessa doença…E sempre que renasces, continuas sem estar curada.

Esperança. A esperança sozinha nada me faz, e quando ela assim vem, é como se viesse despida.
É por isso que a cada encontro, ainda que psicótico, com esta senhora “doença” (que sempre me pareceu mais uma espécie de amiga), ela vinha toda apetrechada, com o necéssaire, a mala de viagem, e claro, nunca se esquecia das asas. Asas que eu nunca via, mas que ela me garantia que estavam lá.
Que eram umas asas mágicas invisíveis, que era como nos filmes…Bastava-me acreditar que elas existiam, para que elas existissem mesmo.E talvez seja por isso, que eu estou a meio caminho. (Ou num lugar qualquer muito aquém do que deveria ser o meio do caminho).
Porque há medida que avançava, achava que a culpa de continuar no chão era minha. Que não estava a acreditar o suficiente nas minhas asas, para que elas existissem.Foi por isso, por achar que não faria mal andar um bocadinho mais para frente, que eu só precisava de precisar mais um pouco dessas asas, para que conseguisse acreditar nelas o suficiente, para que elas existissem, que eu segui, segui sempre. Com um sorriso nos lábios, e um brilho nos olhos, disfarçando essas migalhas de fraqueza que ia apanhando como se num trilho para voltar a casa.Sempre que achei que as asas iam abrir-se das minhas costas um dia qualquer, quando a dor fosse tanta que eu implorasse por elas. Sempre acreditei. E talvez, seja esse mesmo o problema, a doença.
Acreditar que posso fazer existir, aquilo que não existe. 
Mudar aquilo que nunca ninguém conseguiu mudar…


No fundo, e agora para desempenhar o meu papel completa-me, devo dizer-te que afinal estão iguais…Tu não sabes o que ele é, e ele não sabe o que tu és.
Ele não faz a mínima ideia do quão melhor o fazes, nem imagina o quanto és capaz de gostar dele. E se perguntares a alguém se fazes bem…Podes ouvir as vozes a exclamar, que não vale a pena.
Não as ouviste tu? “Tem cuidado”, “Não presta.”, “Vais-te magoar.”…
Ah, mas é verdade, tu prometes-te que nunca te mostrarias magoada… (ainda que o estivesses). Porque não queres que ele veja, e porque não queres que lhe doa a ele. E dás a ti mesma, mais uma vez, a desculpa que o amor é assim. Que só assim estás a amar completamente, a dar tudo.Tu não o conheces, mesmo quando achas que o fazes. Aos teus olhos tem tanto dentro de si, que te enche por completo…Ficas rasa de ti, só para dar espaço ao que dele te vai encher. (que nem dele é, mas da tua força enorme de mostrar aos outros [e a ele mesmo] que é melhor do que todos dizem, e que acima de tudo é uma pessoa, que sente…)Mas quantas vezes viste brilhar nos seus olhos o sentimento puro, em bruto? Quando é que se ele sente, não teve medo de te mostrar isso…?Sim, eu sei que tu também tiveste medo…Mas pelo menos tentaste. Tentaste de tudo. Conjugaste os verbos de todas as formas possíveis, jogaste com os vocábulos, utilizaste a conta que pudeste de adjectivos, de comparações, chamaste-o vezes sem conta…Tentaste mostrar-lhe que te fazia falta aqui, e afrouxaste a palavras mais simples, mais exacta, mais desnuda porque na rua em que ele estava, fazia sempre tanto frio que tiveste medo que ela se constipasse e morresse de pneumonia. Nem doente a querias, mas de alguma forma, ela acabou por o ficar. Talvez porque a distância, é ainda mais prejudicial ao “amo-te” que o frio.E porque o “amo-te” é como tudo o que se guarda…Ganha mofo, e pó, e acaba por apodrecer…Por ficar guardado, pegado, enterrado…E quanto mais tempo estiver, mais difícil se torna de o (a)tirar.Ele não te conhece, ainda que ache que o faz. Ele não consegue imaginar como tu sentes, e como é para ti importante o que sentes. Como um tesouro comparado com isso, nada significaria.Não conseguirá nunca perceber como pode ser mais importante, brilhante, ou especial para ti, que a pessoa perfeita, a casa perfeita, o sorriso perfeito. (Bem, no fundo, nem será capaz de perceber, que nele não procuras nem uma ponta de perfeição)E será que alguma vez alguém lhe mostrou o que é isso?Sei que às vezes chegas a pensar que és tu quem está errada. Que neste mundo, já é quase proibido, uma barbaridade gostar de alguém assim.Eu mesma começo a perguntar-me acerca disso. Nem importa…Sabes lá tu mais o que hás-de fazer agora…Sabes lá tu que mais artimanhas, e desenhos, e palavras, e quadros, e fotografias, e músicas, hás-de arranjar para arrancares o “amo-te” e o pores nas suas mãos. Quem é que te tira o medo de o fazer, quando agora, para além de estar frio, ele está também longe?...E agora eu estou aqui, para fazer o papel de tua amiga. Podes chorar…Eu prometo que vais acabar por adormecer...e esta noite, vou deixar-te descansar. Longe dele, longe de mim e longe de ti. Não longe do “amo-te”, porque de alguma forma dá-me a sensação que esse “amo-te” tem ainda mais força que todos nós juntos. Ninguém te move como essa pequena palavra, ninguém. Nada.


Achas que é tarde?

Tarde como?...Horas?

Não, tarde de tempo…Tarde de distância. Tarde de frio.

Porquê?

Achas que ainda posso correr, e pôr-lhe nas mãos o “amo-te”?

Não posso julgar saber a força desse “amo-te”…por isso não te sei dizer.
 
Importaste se eu correr? Se tentar alcançá-lo? Importaste que eu ponha a prova a força do “amo-te”?

E tens força para isso? E os vidros? E as pedras? E a tua pele, que vai ficar ferida, e suja e negra?

O que importa isso…?
Nada disso me importa, se eu sei que me vai doer muito mais ver as costas dele, viradas. Longe, lá longe…como uma formiga vista dos meus 1,53 m. O que importa isso, ou a doença da esperança, a dor das feridas, da sujidade e da escuridão, se eu sei, se eu tenho a certeza que se ele for, sem nada meu, sem pelo menos esse “amo-te” que no meio de tanto que lhe dei, era só o que lhe queria dar, eu vou morrer, novamente?
Não importa. Só importa que ele sinta esse “amo-te” nas mãos. Que saiba apenas que ele existe, se para nada mais o quiser…

Então vai. Vai agora, corre. Não tenhas medo.
Parece que afinal, os heróis não se cansam…Até aqueles que não o são, e o tentam ser, á força…

  

Strong Heart, Weak Mind.




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