segunda-feira, 16 de março de 2009

*Quase dois anos depois...(1)



Penso que não me vi. Não me vi no espelho, nem nas costas da colher. Não me vi no reflexo da água, nem no da janela. Simplesmente continuei sem me espreitar.

De repente tinha ganho umas asas enormes, maiores que aquelas que teria força para suportar...Ganhei um brilho constante de lágrimas no olhar, ganhei um sorriso invertido...

Não sei sequer donde tinham vindo e já estava a dizer que estava pronta para conseguir.

Hoje falo de força...Hoje falo de coragem. Hoje falo de mudança.

Coragem...coragem não é dizer «Eu não tenho medo de nada nem de ninguém»...

Sim porque eu tive muito medo mesmo, muito medo do que estava consciente de que perdia todos os dias, e do que nem sequer imaginava que estava a perder.

Perdia-me a mim, perdia as pessoas de que precisava, perdia a verdadeira Inês.


Andava algures entre mentiras que eu sabi que o eram, mas que nem queria constatar que o eram realmente.

E nesse tempo eu não me vi, não me vi, não me espretei. Seguraste-te em mim, e eu segurei-me nele...

Suportei-te...como? Não sei, suportei-te com toda a vontade que tinha de fugir para longe de ti...

Ele não me suportou, mas nem disso eu te quis culpar.

Talvez até não tivesses mesmo culpa.

Via tanta coisa rodar á minha volta que eu nem parava para pensar...ou será que fui a única que o fez?

Tantas noites debaixo de luar, tantas palavras mal ditas...

Essas palavras que tu proferias como alguém que diz "São três horas", mas que deveriam ser proferidas com o mesmo pesar leve que "Amo-te" ou "Perdoa-me"...

Disseste apenas palavras carrossel...Palavras que giravam, giravam em torno do mesmo, me deixavam tonta, com o peito aos saltos e uma vontade imensa de cair por chão, mas que ao mesmo tempo me davam força para correr para aquele parquezinho, onde juntava os joelhos num abraço e deixava a tristeza cair-me pela face, o meu impeto de dor vaguear pelas pedras da calçada...até que sentia a sua mão quente...

Posava-me a mão no ombro...Respirava fundo...sentava-se a meu lado, esperava e depois abraçava-me...

- Que se passa?...Estás bem? Olha para mim...

Eu insistia...não, não queria que visse as lágrimas...Não não queria que sentisse que eu andava sempre me baixo e assim não tinha graça. Não queria que sentisse, ao posar a sua alma na minha, que ela estava cheia de cicatrizes mal saradas, e feridas abertas...

- Vá lá...Olha para mim...Mor!

Eu levantava a cabeça, hesitante, arranjado mil formas de camuflar o rio que desaguava na minha face, mas ele sabia...ele sabia sempre, ele sabia tudo...

Ele nem precisava de uma palavra...ele sabi o que eu ia dizer...«Ela».


Depois, pegava-me na mão esquerda, e com a sua direita limpava-me uma lágrima...Olhando, olhos fixos, olhos de vidro, que de mim nada queriam esconder...

Naquele momento eu ouvia todas as palavras de novo, eu sentia tudo de novo, e estremecia...Um arrepio, um enfraquecer de ombros, uma ligeira fraqueza nos joelhos...

-Não fiques assim...vá lá. Psiuu...

E envolvia-me num abraço aconchegante, num abraço de carinho, de compreensão, que ele até podia não compreender, mas esforçava-se bastante para o fazer...e eu sabia-o tão bem...

Mesmo sem me olhar, percebia o meu pedido de socorro; memso sem me tocar, sentia a minha trsiteza; mesmo sem se aproximar, sabia quando não queria estar ali; mesmo sem falar, ele sabia que eu precisava de uma mão que me segurasse, um olhar que me desse confiança, uma suavidade que me limpasse a alma, e um coração que me fizesse sentir amada...


*Compreensão*Esta é a primeira razão porque continuo a sentir a tua falta...


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