quarta-feira, 8 de julho de 2009

Falar de nada, como se fosse tudo.



Continuas entre as mesmas paredes. Continuas com o mesmo olhar, que para mim é tão diferente.

Continuas com a mesma voz, mas eu oiço-a como quem já a não sente.

Continuo no mesmo lugar, mas não espero qualquer volta, qualquer regresso.

E do que peço, nada de ti, parece ficar.

Tenho saudades do mar.

Saudades de olhar para o horizonte e sentir uma paz que há tanto não sinto...De sentir a luz dourada adensar-se em mim, adoçar-me cada poro da pele, e eriçar-me os pêlos do pescoço.

Sinto falta do ar fresco do entardecer, quando o vento ainda não é vento, mas se fica pela brisa, trasendo o cheiro subtil do sal marinho.

Sinto falta de ter a certeza que sigo o meu caminho.

Acho que me parei aqui, algures, a meio da jornada.

Que eu disse que ia seguir amanhã, mas nesse amanhã, eu já não vi nada. Parei-me no meio da estrada, porque sabia que nada me iria tentar deter...

E fiquei ali, deixando as minhas decisões apodrecer, deixando-as ficar velhas, cheias de pó e vendo-as devagar, desaparecer.

Quando o sol tentava trespassar as nuvens com punhais de luz, eu levantava-me e sorria...Parecia ter acabado de acordar...

Acordar de um sono que nem dormi. Acordar apenas de um tempo que perdi.

Afastava-te de mim.

Agora eu sento-me na janela, sinto o ronronar do meu gato, e vejo ao longe as luzes amareladas, suspensas por cima das cabeças dos ninguéns que calcam com os pés as minhas avenidas.

A esta hora elas já estão tão esquecidas...

Mas a noite é assim...A noite perde-se por si mesma num nada que eu gosto de apreciar...Embeleza-se para ninguém, apenas para mim, que a vejo passar...

Talvez eu apenas precise de encontrar a paz no meu lugar...Mas que lugar poderá ser meu, se em nenhum eu acabo por querer ficar?

Quantas vezes deixei de sentir leve o mar, para sentir pesado esse mesmo seu clássico encantar? Foram todas as vezes que me lembrei que há tantas e tantas provas que nós não conseguimos passar...

Mas eu guardei todos esses dias como diamantes negros na caixa de música, e deixei de a abrir...A música dela faz-me chorar...Faz com que as minhas lágrimas se condensem em mim, como o frio se condensa no mais gelado glaciar.

Que caiam como estalactites...Que doam como fósforos que se deixam arder demasiado.

Aprendi a ver-me de outra forma, aprendi a ser...A ser um universo de espaço meio vazio e meio cheio...Mas não perdido, pois sei que alguém entrou lá...

Aprendi a que as palavras não devem ser engolidas ou mastigadas, e disse-as, sem mais esperar da bailarina da caixa de música...Ela ficou sempre muda...como se o seu mecanismo se tivesse encravado.

Mostrei que eu posso ser uma noite...Posso ter em mim um vento demasiado frio...e um calor demasiado quente. Desculpas demasiado sujas, e um sorriso eloquente.

Que também sou capaz de me rir do sofrer, ou de chorar de piadas...Que posso ser como a bailarina da caixa de música...muda, silenciosa, encravada.

E um dia...eu vou-o continuar a ser...E tu vais-te aperceber que eu mudei o meu olhar...que eu mudei a minha voz, que nada é mais igual, como era entre nós.

Porque tu vais sempre ser o meu passado, e eu, o teu futuro...

Num tempo mal encontrado, e num espelho demasiado sujo.



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