quinta-feira, 23 de julho de 2009

Fortaleza irreal


Uma porta entreaberta
Espera por um vento forte.
Nasce em mim a descoberta
Que antes de viver, nós presenciamos a morte.

Quatro pegadas na areia molhada
Seguem-se pela duna…
E em suma,
Vê-se a noite encalhada
Na penumbra.

Como podereis vós ir?
Como podereis vós dizer que amardes?
Vê-se a pétala da vossa flor cair
E o perder das nossas metades.
Que já se não completam,
Que já se não juntam…

Os seus dedos percorrem frios
As teclas brilhantes,
E em pequenas notas de calafrios
Vós recitais índoles triunfantes.




Escorre-lhe a vergonha pela testa,
Salga-lhe ela os lábios docemente,
Assalta-lhe a alma este sentimento de não festa
E eu fico dormente…

Não sois vós capazes de me segurar?
De impedir meu coração de esperançar…
Consome-me a saudade vingativa
Imperante vontade, altiva.

Trazei no peito esse desamor
Misturado de um ódio seco, sem sabor.
Envergai vestes incolor, impetuosas de nada
Bolhas de sabão perdidas na etapa da chamada.

Numa porta entreaberta
Espera uma figura desiludida.
Mostra seus espinhos de forma doentia
Querendo manter longe de si essa mancha dorida.

Pouco sabe ela, enganada, a coitada!
Que metade da sua vida, essa mancha, ela a absorveu.
E agora diz que “(des)viveu”…
E agora não sabe onde deixou o véu. Seu.


Estranho esse seu virar de cabeça,
Escondendo a face numa dura proeza.
Será que teria tamanha valentia,
Para falar realmente o que sabia?

Estranha essa sua expressão de grandeza,
Embelezada por um sorriso embaciado, sem beleza.
Vós sois talvez o frio que mais me arrepia
E a cólera recôndita.

Corpos caídos no chão
Inertes; ouve-se o vácuo do coração!
Perco eu mais uma batalha,
E a guerra, então?

Longe, tão longe que ele se vai
O suspiro inesperado de um Inverno azulado
Cai, deixa-la cair; cai,
A chuva diamante pelo relvado.
Cai, deixa-la cair; cai,
A neve escorregadia no telhado.
Cai; deixa-la cair, cai
A sua pura alegria em mau bocado.

Fazei-me falar, meu bem, fazei-me sorrir.
Falai-me das mil cores que vós vistes surgir no meu olhar.
Impeça essa calma de ruir, esse sonho de fugir
E corra atrás do seu lugar.
Mas levai-me consigo por favor, levai-me meu bem.

Só por vós me prenderia nessa fortaleza decadente
De onde brotam as flores do poente,
Onde se dorme a lua e morre a luz
Em que tudo fica como está
Salvando a estrela que reduz…

Vós sois qualquer discórdia importante
Ou uma outra memória flamejante
Uma fonte de água pura
Ou uma sombra escura.

Vós sois a parte de mim que deixais falecer.
Então me perco, numa fortaleza irreal que haveis deixado de ver.

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