sábado, 30 de maio de 2009

Metamorfose.


Não há palavras que traduzam o que o coração sente quando está em metamorfose.

Metamorfose essa que num momento tem todas as estações do ano.

Sei que hoje me sentei na Primavera, ou quem sabe no Outono. Calma, serena. Como se este segundo durasse para sempre.

Não chove, não faz sol, mas é como se ouvisse a chuva e senti-se a luz dourada acariciar-me as pernas e os pés...

Sabe bem adormecer assim, desde há tanto tempo. Sabe bem saber que esta metamorfose não durará muito mais.

Lembro que quando começa, deixa-nos como animais dentro de uma jaula. Respondemos ofensivamente a todas as ajudas, e de seguida corremos a pedi-las.

Achamos que não está ninguém para nós, mas temos o mundo aos nossos pés...pedindo-nos para abrir os olhos, para ver, para ter a certeza.

Mas não há certezas nas metamorfoses.

Sei que enquanto ela me atacou, eu sempre caminhei no Inverno. Achei que ele não ia passar, que afinal a minha metamorfose tinha falhado, ficado a meio. Afinal, só tinha demorado mais.

Culpei toda a gente. Culpei-me a mim inclusive. A mim, mais que aos outros. Sabia que tinha mais culpa, por não ter agido mais cedo. Mas também me perebia melhor que o que faziam aqueles que me viam de fora...Que observavam os meus olhos brilhantes...Porque raras foram as vezes que estiveram vazios durante esta metamorfose.

Apenas o estiveram quando olhei para o caminho e pensei: "Boa! Tens mesmo de avançar.", porque atrás tinha uma parede enorme, feita de pedra e que me tapava o sol.

Eu quis esperar, pois quis. Foi tão mal pensado...foi tão mal concepcionado. Como poderia esperar que algo voltasse se o caminho de regresso, para trás estava bloqueado?

As metamorfoses são como qualque outro sentimento que possas conhecer. A diferença é que ela tem todos os sentimentos. É como o lugar onde desagua o rio e vai ter ao mar...Uma mistura de doce e salgado. É o ponto em que depois de tanta dor, deixas de a sentir. Habituas-te a ela.

Estive em todos esses locais. Demorei-me neles como se lá quisesse ficar para sempre, e eu sei que todos achavam que isso ia acontecer. Porque não o haveria eu de achar??

Agora no fim, eu aprendi que tudo isso é normal. Que tudo isso é preciso para ter certezas.

Está tudo ligado. A dor, para chegar ao verdadeiro amor, a incerteza, para chegar ás certezas, a morte para perceber realmente o que era a vida.

Talvez nunca tenha pensado assim enquanto sabia estar a mudar, e a cada dia ia de encontro ás paredes como barata tonta. Talvez nem sequer tenha pensado nada correcto, pois a minha cabeça parecia um novelo de lã, depois de um gato ter brincado com ele. Não conseguia encontrar a ponta, nem do início, nem do final. Guiava-me por especulações.

Mas neste momento, nesta calma quase impossível, eu sou a mais sábia de todas as borboletas.

Abri as minhas asas, e olhei-me no espelho. Olhei as cores novas delas, como brilhavam ao sol, como as gotas do orvalho tão bem as decoravam, e achei tudo perfeito.

Até a brisa parecia embalar os sonhos.

Quebrei a promessa de não ter ninguém no meu coração. Não é possível ter o coração desocupado. Ele enche-se por si próprio, mesmo que lhe digas: "Pára quieto, não quero, não quero, não quero.". Ele enche-se por si próprio.

Mas agora, agora que já sou borboleta, que as minhas asas já brilham e o meu tempo não é limitado eu sei que saberei sentir o que devo sentir e atenuar aquilo que me fizer sofrer.

As metamorfoses, são como as estações do ano...O Verão é sempre a que parece durar mais quando chega.



1 comentário:

  1. eu sei que me estou a tornar deveras repetitiva, mas tu também nao te cansas de escrever bem?!
    bolas, adorei *.*
    aishiteru <3

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