quinta-feira, 2 de julho de 2009

Vai e Vem.


Um dia vais aprender a odiar-me.

Um dia vai ser simples para ti não pensar em mim, não desejar as minhas palavras, não querer tocar mais o que sou.

Vai ser fácil dessa forma.

A princípio o sol pode não te parecer tão quente como era. Pode dar-te a sensação de estares a viver um Verão Invernal, mas não te assustes, isso é apenas a dor.

A dor da minha ausência, se a sentires.

Quando caminhares pela praia com a tua mão direita agora livre, vais achar que já não tem a mesma piada. Já não vais correr por entre as ondas, já não te vais deixar cair de costas na areia. E se o fizeres, arfando como sempre, não vais gargalhar como ditava o nosso ritual.

Não vais querer que a noite chegue, que as luzes se apaguem.

Ainda te posso ver na varanda virada para o mar, em direcção ao horizonte, ao pôr-do-sol. Os teus braços estão caídos ao lado do corpo. Não sabes agora o que fazer com eles e de repente eles ficam mais pesados. Mas depressa tu descobres...Descobres que vais precisar deles para cobrir a tua face quando a primeira lágrima cair...seguida de mais uma...e outra ainda.

E porque eu não estou, vais pensar em mim. No meu sorriso, num movimento de câmara lenta, porque assim marca mais.

Vais pedir em silêncio; vais desejar.

Vais-te sentar na espreguiçadeira até anoitecer, e não vais jantar.

Adormeces entre sonhos, onde eu apareço como sempre me conheceste, e mesmo a dormir o teu coração vai apertar. Vai-te custar respirar.

Oh, mas tu vais aprender a dizer-me não. Porque um dia vais saber como me odiar.

Vais enrauvecer-te comigo porque não saio da casa, da praia, porque ainda estou no quarto e na sala, e até no carro.

Poruqe de repente sou como o teu Deus, e no entanto vês-me como condenação, porque te faço doer.

Na verdade ficas apenas enraivecido contigo. Chegas á conclusão que és tu que não me expulsas. Que és tu que não consegues abandonar a parte boa de mim.

Vais chamar-te fraco. Mas a isso chama-se amor e não fraqueza.

Olharás a imagem no espelho e não te vais conhecer.

Tu nunca te conheceste assim afinal...com o olhar vazio e os lábios roxos, com as faces brancas e olheiras...

Eu disse-te que doía...Lembras-te?

Eu disse-te que era uma meia-morte.

Nesse tempo sentirás apenas a ausência, o vazio...Aquela parcela de ti que te parece estar quase a chegar todos os finais de tarde quando a luz é alaranjada no horizonte; que esperas que te chame do quarto de manhã, quando já estás a pé há duas horas; que te vai implorar todas as noites para se sentar contigo na areia, todas as noites, essa que está a dez passos.

Mas ela nunca chega, e no entanto tu pensas que não pode ser, e que o amor é paciente.

Mas tu vais ver...Vais ver os dias passarem, as semanas passarem.

Fechas-te no teu mundo e foges da claridade. Não queres saber dos outros, tu só queres saber de mim.

E eles vão entrar-te pela casa adentro e mudar tudo, coisa de que não terás coragem, mas que começas por te convencer que vai ser o melhor.

Comparas isso a um novo aprender a viver e vão existir dias que te parece que a felicidade finalmente chegou...Mas mais tarde, quando o dia estiver no final, não vai surtir efeito, pois continuas sem aquilo que eu te dava e que te fazia tão bem.

Vais fugir para todos os lugares possíveis, mas eu vou seguir-te, pois tu não me deixas-te de onde partiste.

Contarás todos os meses e de cada vez que somares mais um, eu vou saber que te sentas-te à beira-mar e te perdes-te por ali.

Mas vai chegar aquele dia em que me vais odiar.

Eu vou saber quando ele chegar.

Vais passar por mim na rua...e os meus olhos vão voltar a brilhar quando se encontrarem em ti.

De repente sentirei de novo o corpo tremer, e o estômago revoltear. E por uma razão qualquer eu vou achar possível voltar a correr para ti.

Mas paro-me a meio.

O teu ódio vira-me a cara, mas no restante desse dia tu vais pensar em mim, e eu vou pensar em ti.

Vais sonhar comigo e eu vou sonhar contigo.

Quando amanhecer e eu caminhar na areia que nos pertence, eu sei que ja la estarás. :)

O silêncio permanecerá quando as minhas pernas se cruzrem do lado direito das tuas.

Ficaremos tempo e tempo ás espera que qualquer coisa surja na nossa boca, qualquer coisa que faça sentido dizer naquele momento.

Aí sou eu que quem não vai aguentar, sou eu quem te vai abraçar.

Demoras a assimilar, mas pouco me importa o tempo, eu vou parecer colada a ti.

O teu ódio, vais perceber, não é a mim que odeia. Odeia sim a intensidade com que me amas...com que precisas de mim. E isso vai desaparecer ali.

Para sempre os corpos vao consumir-se num só. E no silêncio da madrugada as juras serão juradas, as desculpas pedidas e as promessas de novo prometidas.

E tudo começará de novo, como duas crianças que se encontram num espaço intemporal...num sonho real.


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