sexta-feira, 24 de abril de 2009

É de todas essas formas que me perco em ti...

Fechei-a na caixa com medo de a perder.
Uma caixa perfeita, uma simetria total...quatro pequenas paredes de veludo rosa claro, como um final de tarde pelo filtro de uma máquina fotográfica de um tempo antigo. Do lado direito, um coração forjado a ferro, mas um ferro delicado, brilhante, acetinado...E eu rodeio sem parar...durante toda a história eu rodei-o e rodei-o, não me fartei de a ouvir tocar.
Via-a ali. Pequena, minúscula, traços mágicos, saídos de um sonho. Tule cor-de-rosa em volta da cintura, seda preta a correr-lhe tracejada pelas pernas...
Ficava tempo e tempo, olhando-a e pensando como era perfeita...como não havia outra igual.
Em silêncios eu falava com ela, e eu sabia que ela me ouvia...
Mas eu sempre a fechei naquela caixa, naquela caixa que eu achava perfeita.
Era uma mente fechada, e aos poucos fui perdendo.
Entre mesas de discórdias, e gritos ensurdecedores dentro da minha cabeça. Afinal de contas, dessa forma, a musica que da caixa jorrava não passava de uma cantiga de rua. Dessa forma nada tinha o encanto de antes. E a caixa abriu-se. Num estrondo atirei-a ao chão, o tule caiu, as fitas de seda partiram-se com as pernas de porcelana.
Foi aí que percebi que somos nós que damos encanto ás coisas, que as tornamos especiais. No entanto, quando isso acontece perdemos muito mais do que se fossemos indiferentes a todas as questões que nos rodeiam.
Eu tornei-te especial para mim.
Como a caixa de música, tens um encanto qualquer que me prende. Mas desta vez, eu já sei que um dia me vão chegar gritos ensurdecedores. Isso no dia em que os sentimentos fugirem de dentro da nossa caixinha e esvoaçarem por aí...chegarem ao mundo das coisas perdidas.
Estarão perdidos.
Depois de olhar bem a caixa revestida a rosa de final de tarde, os gritos acalmaram...a vida parou. Um pânico de mim se apoderou.
Nesse momento apeteceu-me correr até um penhasco e tentar voar...
Hoje, e de cada vez que me lembro de ti, sinto que devo desistir...mas desistir custa muito mais, e as tuas palavras acalmam-me o coração.
És como uma música de embalar, em que cada palavra me acaricia o cabelo ao adormecer e me faz sentir um calorzinho suave e livre.
És como uma caixa de veludo cor de rosa, que me prende, mas não me sufoca, e mesmo sendo imperfeita me faz sentir como se a perfeição existisse.

E foi contigo que aprendi que gostar vai para além de tantos e tantos e tantos factores...
Porque quem gosta, gosta da direita para a esquerda ou da esquerda oara direita, gosta de cima para baixo de baixo para cima, aos quadrados, ás bolas, ás riscas...Gosta com o coração com o espírito e com a alma. Gosta porque gosta e porque quer gostar. Gosta sem saber ou sabendo tudo. Gosta aqui, ali e acolá. Gosta quer esteja ou não lá. Gosta pintado, sujo, ou farto. Gosta leve, suave, ou brilhante.Gosta quer por fora, quer por dentro. Gosta com nuvens, nevoeiro, faça sol, esteja a chover. Gosta quando é quente, gosta quando é frio. Gosta por cima e por baixo. Gosta de todas estas formas e muitas mais...E eu acho que gosto mesmo de ti.
E cada vez que me tento afastar, apreces-me sem eu saber de onde...cada vez que me tento esquecer, nem tenho consciência que me lembro mais e mais.
É certo que tudo é uma ilusão cruel, um sonho infiel...

Mas se acabar em baixo novamente eu vou ficar feliz...Porque será sempre uma memória das melhores.

Então, eu vou deixar a nossa caixa aberta, a musica tocando, espalhando-se pelo ar...e a vida seguir, ansiando, como tu dizes, o momento que o destino nos reservou.


Tudo isto para dizer apenas uma coisa...A felicidade pode estar mesmo á nossa frente, ou mesmo ao nosso lado, mas se os olhos estiverem toldados de lágrimas, será dificil vê-la.

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