sexta-feira, 3 de abril de 2009

Melhores Amigas.

Estávamos as duas sentadas no banco do jardim.
A relva molhada fazia cócegas nos nossos pés, e nós sentiamos a brisa leve do final de tarde levar-nos os cabelos debaixo daquela grande árvore que guardara cada minuto do que haviamos sido.
Estavamos só as duas, o ar robusto e as memórias de dias passados.
As gargalhadas rimbombavam nos nossos ouvidos, agora violentas e ameaçadoras, as imagens passavam, e uma a uma, eu vi cair as lágrimas do teu rosto, talvez como tu viste as minhas deslizarem no meu.
Era um lugar cheio, donde não saíamos pelo medo de o deixarmos vazio!
Pegavas-me na mão e as lembranças caiam-nos emcima como relâmpagos perdidos numa tempestade...ficavamos desnorteadas e caiamos uma na outra como as sementes caem das flores num dia ventoso.
E choravamos, choravamos...
Choravamos de felicidade e de saudade antecipada.
Uma saudade que ficaria para o resto das nossas vidas escondida no substracto que guardamos da nossa infância e juventude.
Nesse dia, nesse dia de Verão em que nos lembrámos de tudo, como se mergulhássemos dentro de um albúm de fotografias eu senti que estavas ali, que irias ficar ali para sempre.
- Achas que nunca mais nos vamos ver?
- Quem?
- Nós todas...
- Claro que vamos, meu amor, achas que uma grande amizade acaba assim?
- Eu tenho medo...
- Todas temos...Mas sabes que nós temos sempre uma forma de estarmos presentes...
Ela pôs a mão sobre o coração, eu sorri e acenei que sim. Ela sorriu engelhadamente, como quem força a alegria, e mais uma lágrima a acariciou.
Lembrei-me...Lembrei-me então das nossas manhãs, caindo de sono, com risadas e queixumes.
Vieram ao coração todas as desilusões, todos os medos, todas os grandes obstáculos que juntas derrubamos...vieram á cabeça todos os momentos de loucura, de paz, de felicidade, de apoio, de carinho.
E chegou cada sorriso, cada vitória, cada mão dada, cada abraço apertado no quente da nossa união..chegou tudo o que nós saberiamos que tinhamos sido e que seríamos.
De repente chegou, trazida por o rol de ausências que no futuro iríamos sentir.
A vida poderia seguir o seu rumo, mas ali, naquele banco, naquele jardim, naquele santuário da nossa vida, naquele ponto de encontro de sempre, o tempo parava, ou avança devagrainho, como melodia de embalo, como música para adormecer, que contrariamente nos fazia ficar mais acordadas.
Uma a uma elas foram chegando.
- Boa tarde...
Umas riam sem grande vontade, outras cerravam a boca e olhavam o chão...
Na verdade, não tería de ser triste, não teria de ser o final...Na verdade seria um início e deveríamos estar felizes, aos abraços e conversas tontas como todos os dias...Mas por qualquer razão Deus fez o homem assim, fê-lo pensar sempre demasiado, fê-lo querer agendar tudo de modo a tornar as coisas perfeitas, mas também por qualquer acaso aqueles actos que pensamos e pensamos e voltamos a pensar nunca saem do modo que nós os imaginamos, então pergunto eu, não teria sido melhor se não tivessemos programado cada acto??
Então, naquele dia, talvez tenhamos decidido no silêncio de nós próprias que teríamos de pesar tudo o que tinhamos sido, tudo o que tinhamos construído, e arranjar solução para algo que nem nós próprias sabiamos muito bem o que era.
E eu tenho a certeza que dentro delas, saltava como uma pulguinha inquieta a mesma pergunta que em mim: Como será dizer adeus, quando temos a certeza que não o será eternamente, mas quando também não teremos a pessoa a quem dizemos adeus presente todos os dias??
Acho que as questões nos atacava mais que o próprio medo.
Mas depois, sentamo-nos todas, olhamos umas para as outras, e rimos, rimos e voltamos a rir...Rimos por tudo o que tinhamos chorado, rimos por tudo o que tinhamos sofrido, rimos por todos os momentos que achamos que não eramos amigas, rimos por todos os momentos que nos magoamos umas ás outras.
Ouviram-se pedidos de desculpa, ouviram-se planos para o futuro...
E houve silêncio. Silêncio, aquele silêncio bom em que se reunem as amigas de sempre, os sentimentos conhecidos que pensavamos perdidos.
Foi aí que eu percebi, que já nada estava programado em nós, mas que estavamos a ser aquilo que sempre tinhamos sido: nós. Nós acima de qualquer comentário.
Então, neste momento, em que me encontro a escrever isto, eu posso estar a programar esse mesmo dia, mas eu sei que vou apagar estas palavras de mim, e vou levar-me vazia, para que de novo, aquelas que amo me possam preencher.
Sim, amo, porque o amor na amizade é ainda mais perfeito que o amor entre um casal.
E meus amores, não temos nada que temer pois longe ou perto, sei que todos os dias ao acordar nos lembraremos umas das outras, a cada gesto, a cada palavra, e se a saudade apertar, é sinal que não nos esquecemos do amor que sentimos umas pelas outras.
Quando um dia nos voltarmos a reunir, viremos carregadas de novos sonhos, e será um novo começo, como em pequenas gradualmente nos conhecemos e nos demos bem.
Vocês serão sempre as minhas pequenas, e jamais vos poderei esquecer.
Ajudaram-me, salvaram-me, guiaram-me. Devo-vos muito mais que um simples texto, ou um pedido de desculpas pelos momentos em que vos ignorei por lapso.

Agora eu sei, eu sei que por onde quer que a vida nos leve, no que quer que ela nos transforme, dentro de nós iremos ser sempre o modelo daquilo que fomos com as nossas melhores amigas no momento da construção.


Choraremos e riremos, mas o importante é que nunca nos esqueceremos. ^^

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